Para ele: juro-te que não é uma... Amanda Seguezzi

Para ele: juro-te que não é uma declaração de amor, mas é que sonhei contigo na noite passada. E sei lá, me deu vontade de dizer que não consigo amenizar essa saudade nem a separando em sílabas. Não, não estou me declarando, contudo, perguntaram-me a definição de estrelas cadentes e eu só conseguia descrevê-las de um jeito. Do nosso jeito. O jeito como cada vez que o teu coração encostava ao meu, eles tocavam o céu, e assim as estrelas caíam. É estranho, porque apesar de não te querer para sempre, eu te quero bem, e muito. E esse não é mais um verso de amor, uma vez que digo te adorar para não dizer que te amo, e tento me amar mais a cada dia para não deixar este sentimento escapar a alheios. Das oportunidades perdidas, descobri que amor é tipo colher flores. Não que eu gostasse de colher flores, mas eu sabia que se as arrancasse, não seriam mais as mesmas. E da nossa primavera não se aproveita nem meia estação. Por isso que amor é verbete proibido, e cada um propaga suas palavras e isola o que sente por dentro e descobre a força no vento contrário, e não seguindo na mesma direção, enfim. E a vida é feita de ventos contrários, não é? Onde quinze semanas são brisa e o resto é tempestade, e eu te perdi nessa atmosfera infindável, aprendendo com as circunstâncias que não somos senhores do tempo, nós somos finitos. É difícil compreender a efemeridade das sensações, a culpa do engano, o desejo da carne. Nunca foi uma declaração de amor. Porque para te ter por perto eu precisei congelar por dentro, e as emoções resultaram em estalactites no céu da minha alma. Não que eu me orgulhasse da criatura em que me transformei, entretanto, aprendi da pior maneira que o amor não é justo, é egoísta. Perde-se na trama dos pensamentos, focam os objetivos num plural. A queda é imensuravelmente mais dolorida do que pular de um prédio de seis andares. Cada estrofe é um passo desregulado e sem ritmo e eu não entendo o porquê de insistir no inexistente, na valsa sem som que ecoa quando o acaso te traz para perto. Descobri que me encontro num rosto que nunca vejo, contudo, conheço as mil facetas que traz, as linhas firmes que almeja. E não é uma declaração de amor, uma vez que se por acaso, algum dia, se eu bater na tua porta é porque errei de endereço.
No sonho, não me recordo ao certo, nós éramos bêbados e felizes. Você apostava em nós e eu desejava a gente. E poxa, como se respira mesmo? E é isso, são os enigmas sem sentido, os labirintos da tua alma repletos de paraísos desconhecidos que me instigam, e eu até atrevo a me perder por essas terras, amor. E isso não é uma declaração de amor. É perceber que eu era boa com palavras até precisar caminhar no sentido contrário a elas só para ter certeza da minha força, ou das sobras dela. É te esquecer por um segundo e recordar do que nunca pareceu fazer sentido nas outras horas do dia. É te querer não querendo, evitar ouvir as batidas do teu coração justamente por decorar os trechos acelerados. É sentir o silêncio pro conforto da minha arritmia. Me despe e não se despede, aprende que na despedida eu me torno perecível ao resto do mundo e insensível aos outros dias. Aprende que se por acaso isso tudo parecer uma declaração de amor, é coincidência. O que não significa nada para ti é o meu fim distribuído em pequenos fragmentos, e ou eu te mato agora, ou continuo me deteriorando aos pouquinhos. E “se dessa vida nada se leva”, por que eu ainda insisto em te levar comigo? Eu não entendo, realmente não entendo. Ninguém nunca disse adeus e a esperança ainda é superlativa. Ainda acredito em tudo que eu não disse, mas jurava que tu compreendias.
Mas se eu voltasse, nunca me permitiria partir novamente. E pela primeira vez te vi à toa e pensei: “Por favor, não sinta a minha falta”. Desculpa, moço, é que eu interpreto pro meu mundo até o que você não diz. E isso não é uma declaração de amor.