Infinitos Universos Paralelos "Pra... Amanda Seguezzi
Infinitos Universos Paralelos
"Pra quê se preocupar com um momento que já está perdido em algum outro campo infindável por aí, não é mesmo? Espaço e tempo estão ligados, e o minuto passado se encarregou o próprio tempo de deixar de existir. Não que isso assuste, entretanto consegue confortar-me a partir do pressuposto das relações humanas e suas afetividades. E nesse mundo de caos, meus caros, a dor da lembrança egoísta é o pior veneno, contudo doce, que pode estar correndo por suas veias. E eu respiro passado, confesso, e não só exalo decepções como sou amante da memória, aspirante a fotossíntese de intuições. Sou a agonia de um looping reminiscente e invariável de desencanto. E aqui estou. Por não saber o caminho dos trilhos, o peso das bagagens nos vagões eu não me permito seguir viagem. Não. E há quem diga que pior do que não reencontrar o passado é descobrir o que se perdeu do futuro, tarde demais. E eu sofro de dores fortes de antecipações agudas o tempo todo, enfim, por entender, mesmo não entendendo, que para alcançar o que desconheço, preciso primeiramente me conhecer. E ponto. Sou dotada de um pseudônimo oblíquo que ainda não se localizou pelas veredas desse mundo. Na inexatidão do ser, eu consigo compactar os meus anseios e até fingir que estou feliz selecionando uma de minhas tantas outras máscaras. Aí sim, tomo por conta de quê em algum universo paralelo, talvez, só talvez, meu nome seja sinônimo de partidas. E eu até gosto. Porque o desejo de bater as asas para uma terra que ninguém conhece ainda é mais aceitável do que permanecer. A ilha da fantasia dos que não tremem ao enfrentar palavras sólidas e cheias de trepidações ao mesmo tempo, local este onde eu consiga distinguir os sentimentos bagunçados na gaveta e jogados pelos cantos de um poema que não cessa. Percebi então que nunca terminei de escrever um único livro. Nunca chegara ao final de um capítulo, tampouco matei algum personagem por sua péssima conduta e atos relativamente falhos justamente por não gostar de fins, exatamente por não saber justificá-los para alimentar os meus princípios. Acredite nas partidas, e quem sabe em um desses universos paralelos eu consiga, ao menor dos males, ter confiança na ilusão do que não existe e goste de ficar. Por ora. Trilha de dois caminhos irrevogáveis, uma vez que eu não posso esquecer o que ficou pra trás. Se por acaso me desfizer das lembranças, meu corpo esvai junto. Porque eu sou feita de recordações, amor, e ainda há quem diga que quando teu sol reflete na minha pele, eu até consigo sorrir e novo.
O que há muito não faço.”