“Eu te perdi em algum erro meu, eu... Amanda Seguezzi
“Eu te perdi em algum erro meu, eu acho
Deixei-te sangrando em algum labirinto, larguei tua pose em algum canto de beco. Não que eu me culpasse, contudo, sei lá. Seria o crime perfeito assassinar qualquer boa lembrança que te trouxesse para mais perto. Acho que eu nunca te julgaria por omitir, não mentir, apenas mudar de ideia sobre nós. Até porque eu não sou o passado que você tanto gosta de esconder ou o nome que tu evitas a cada esquina. Eu não sou o vulto que tem aprisiona ou a música chata que fica repetindo na tua mente. Não, eu sou mais do que isso. Sou aquela que não conserta os erros, a que você não deixou permanecer. Sou a esquecida lembrada nos momentos de ausência. Sou aquela que te pediu um cigarro e não uma carona pelas curvas da vida. A menina que te impulsiona a criar asas, mas não o real motivo que te faz flutuar. Encaixo-me naquele banho de água fria que tu precisas a cada estação do ano quando o lapso de escassez lhe vem. Aquele vento leve que te faz querer algo bom, mas que não altera tua direção. Enfim. Tu querias abraçar tudo de uma vez, teus braços pareciam ter três metros perante novas situações fúteis. E eu gostava de te ver sorrir, mesmo que o pretexto não fosse a minha voz desafinada ou o tropeço que eu deixei naquela calçada. Apreciava a tua forma de ver o mundo, tão desajustado, eloquente. Eu cedia os meus maus modos e me transtornava por dentro, apenas para entender as tuas camadas de desordem e, quem sabe por sorte, desvendar o enigma que te esconde, que tanto me intriga. Talvez eu lhe dê motivos demais, espaço demais, frases demais. Talvez você não mereça, ou o que parece ser realmente é. E o que é? Eu te perdi porque, além de desunir meus pensamentos, mudaste o meu ritmo. Eu já não pensava mais na mesma frequência e evitava os rostos nas ruas com medo que o teu estivesse entre eles. E os outros seriam apenas os outros quando o martírio me tomava e eu desejava uma banalidade nessas vielas das ruas que te aproximasse das minhas queixas. E eu custei a associar que o efeito está no teu sabor que há tempo não provo.Descobri que te perdi nos acertos, nos passos certos, no sentido contrário. Eu ganhava na sorte e não te trazia junto, mas não se ofenda. Fiz-te de equívoco, resultado falso, delito, imprecisão, imperfeição, punição. Eu precisava compreender o porquê da tua amargura de fazer tão bem. E eu só fui te pedir um cigarro. Só ainda não me acostumei com o fardo de tempo que atrofia os meus batimentos a cada vez que tu tiras o meu sossego. Acomodei-me um pouco, confesso. Já me conformei de que, se o meu coração fica apertado ou se eu choro por dentro, de alguma forma, o problema é só meu.”