"Descobri que a palavra... Amanda Seguezzi

"Descobri que a palavra “Saudade” provém do latim "solitáte", que expressa solidão. Não que solidão me completasse, mas sempre servia de ombro amigo quando tua ausência se desfazia em ecos pelos cantos da memória. Por muito pensar, levei-me a ideia de que saudade não se encaixa em solidão, saudade é mais do que isso. Saudade é ver uma miragem ao final de uma estrada deserta, é andar de braços dados com um espectro de esperança errônea, é se enganar pela milésima vez caminhando no sentido contrário do tempo. Saudade então seria a dosagem contra a amnésia, o passo estreito em direção a lugar algum, é fatiar os anos para que nunca corrompa a lembrança boa. Porque o ser humano se alimenta de lembranças o tempo todo, calcula em quantidade de abraços o que não pôde expressar em horas vividas, entende? O ser humano é o único animal estranho que sofre para se sentir bem, que perde um ano para regressar dois, que se encontra em pegadas menores as quais costuma dar. Solidão é marcha lenta, solidão estende os solstícios e depreda qualquer tipo de sentimento crônico disposto a retornar. Ou que adormecera ali. Solidão é aprender a dançar sozinho, beber sozinho, sonhar avulso. Você não entende a diferença, tampouco compreende que uma estrela na imensidão do céu não se sente sozinha por atrair todo o brilho para si, você não entende que dentre mil e uma estrelas do céu aquela constelação ao qual você sempre encontrava nas noites quentes de Maio ainda estava ali, e nem se preocupa se a mais brilhante estrela estiver na ponta do seu nariz. Saudade é isso. É deparar-se com si mesmo em detalhes jamais vistos por quem isola a alma, é se importar com a nuvem dispersa lá no canto do horizonte, entretanto a mais bonita já admirada, nunca notada. Saudade é sentir o choque da solidão do outro e mesmo assim aceitar este feito como sinal de fraqueza e entrega. Solidão é olhar para os lados e descobrir que a saudade continua batendo à porta, não a sua porta, mas sim a de outro. Solidão é uma saudade definitiva, é ter a coragem que encará-la em cada esquina e descobrir que a solidão de quem antes lhe dava força ainda lhe traz saudade. Solidão é sentir saudade da covardia do outro, do desprezo do outro e diante disso ainda relevar as particularidades que só você atinava e ainda se sentir bem com tudo isso. Saudade é a sua armadura contra as ações de um destino cruel e pertinente. É pior do que solidão, é mil vezes mais temido do que as mais variadas formas de tortura. Saudade é a incerteza do que poderia ter sido ou do que pode um dia ser, é enrolar o fim em camadas de expectativas e aceitar como presente. Solidão sempre será a convicção da perda, do que foi e deixou de ser. Talvez eu prefira caminhar com a solidão, sabe, ao menos não preciso ansiar com o teu fantasma em cada beira de estrada. A solidão condiz com a antítese da nossa saudade, enfim, uma vez que eu comprovava a solidão quando estava ao teu lado e tu te davas conta da saudade quando me via ao longe."