"Divinos são aqueles que eternizam... Amanda Seguezzi

"Divinos são aqueles que eternizam um pequeno instante num grande momento. Divinos são aqueles que não partem ao primeiro sinal de fraqueza. Angelical era quando o brilho do teu sorriso iluminava o meu dia mesmo que por um segundo. Porque a magnificência de tudo estava nos detalhes que não repetiam, na tua forma agradável de abraçar a sorte e estabilizar os pecados do céu. Celestial definia aquele semblante triste que lhe tomava a cada despedida, assim como o ar sublime do afeto abrasador que nos consumia por inteiro ao menor gesto. Bem aventurados os que te cumprimentam a todo o momento, os que fazem da tristeza um mar de encantamento para, mais uma vez, sem encantarem com a curva da tua boca. Maravilhosa era a forma como tu me encaravas de longe, parecendo violar algum código por ser tão atraída por algo que até então tu não compreendias. Muito menos eu. Porque teu nome ainda me gela os ossos e o vento rasteiro suspira o teu aroma de canela compatível à felicidade de um sonho bom. Sonho era quando tu gastavas horas preciosas do teu tempo me fazendo de quebra-cabeças, adaptando minha falta de coerência com a tua tão correta, fazendo da minha loucura um refúgio dos teus sentimentos abstratos que coloriam a realidade de um jeito torto, complexo e mentiroso. Complexidade era saber que no dedo anelar dela encaixava-se uma joia dotada do meu nome que eu não me importaria se ficasse ali pra sempre. Tinha medo de vê-la tão livre a ponto de me esquecer, contudo, veja bem, aprisionar um anjo neste coração fraco e cansado me causaria noites de falência múltipla de vivacidade. Por que se trancou ali e jogou as chaves fora, pequena? Por que em meio a tanto caos e extermínio de bom senso eu percebi que tua mão tinha exatamente o contorno da minha? Ah, pequena, pega essa tristeza toda e expulsa, acorrenta. Faz dela uma ponte que a deixe encostar-se à minha. Diz pra ela que aqui dentro tem um vazio esperando para ser preenchido. Marcha fúnebre também é ritmo, meu anjo. Que nos embala quando o céu fica preto e branco e eu não te sinto. Há quem diga que quando uma lágrima por teu rosto escorrega, o tempo se fecha e a chuva realiza as mais sombrias coreografias. Lavando as almas ou simplesmente nos lembrando de que mesmo do outro lado do mundo, mesmo opostos num hemisfério, até no céu o no inferno, teu olho verde esmeralda atravessaria a atmosfera como uma estrela cadente que pairaria sobre minha vida como um meteoro infame. Não importaria se tu evitasses a morte, corrompesse a desgraça, relesse os horóscopos avisando “Cuidado, menina, vais conhecer um moço que mudará a tua história e vai fazer com que tanto os ares de cima como os de baixo se misturem, confundindo tuas ideias, teus mundos, tuas guerras entre tu e tu mesma, mas mantenha o foco e não desvirtue o teu caminho. Não cruze aquela esquina na quarta-feira.”, isso os videntes nunca contam. O destino não só te levou aquela esquina, como também te fez lembrar aquele momento a cada vida até hoje. O destino te desenhou pra mim e mesmo distante, em algum momento inesperado, a sorte nos acompanharia e nos guiaria até o verdadeiro caminho dos nossos corações. Não se evita a sorte, assim como o destino não aposta em segundas chances. E eu estou aqui apostando em nós. Azar é só mais uma palavra inquieta que cisma em te levar pra longe ao primeiro faro de medo e fraqueza. Divino era o modo como os nossos caminhos sempre se esbarravam, mesmo que inconscientemente. Porque eu não precisava de uma cartomante para entender que aquele sorriso lindo me causaria problemas...”

E trepidações ininteligíveis quando o anjo negro entortava os lábios com expressão de incertezas, admirando o horizonte e pensando: “Se isso for errado, que eu não esteja certa.”

Nunca estava.