“ - O amor então seria ilógico. Mais... Amanda Seguezzi

“ - O amor então seria ilógico. Mais um poema desnecessário, caótico e sem sentido.

Antônio construiu feridas ao invés de amores. Corrompeu a alma e envenenou o bom senso com pequenas gotas de ilusão. Levantou uma muralha de pedra e a camuflou com as cores do arco-íris. Eu nunca saberia diferenciar as multicores da parede gélida, porém fina. Eu nunca chegaria a imaginar que o meu olhar de poetiza fazia-me atravessar paredes, quebrar barreiras e chegar ao local onde ele escondia a sete chaves um segredo. O único defeito que ele trazia consigo era ter amado e até demais, flutuado e despencar em queda livre, corresponder e não ser recíproco. Ele possuía um nome guardado bem lá no fundo da sua alma, nome este que ecoava a cada vez que seu coração palpitava mais forte. Nome proibido, palavrão, gesto esse que o fazia assassinar cada sentimento puro disposto a orquestrar em sua vida. O serial killer das probabilidades que habitava nele não gostava de se machucar, trancava a porta, acorrentava as janelas e qualquer mínima fresta que fizesse a paz de seu ser acabar de vez. Mas quem disse que ele tinha paz? Ele queria viver na imensidão de um local qualquer, onde o vazio humano fosse preenchido pelo colorido da natureza ao tentar alcançar as nuvens, o azul infinito. Garanto que conseguiria, mas nunca sem amor. Contudo ele não sabia que esse sentimento era poderoso, talvez soubesse, porém esquecera assim que o último fio de esperança atravessou porta à fora sem olhar pra trás. Pensou numa certeza.
E no fim, o desengano.
Não milimétrico, que bom se fosse, mas foi um erro de grandes dimensões num campo pequeno, desproporcional a este lapso. Não só de memória, mas também humano. Real.
Um erro que chocou a esperança que estava florescendo, que foi de encontro a projetos. Como um projétil de grande potência impulsionado com grande força contra o corpo inanimado de pedra. Mas o problema é que o homem não é de pedra, mas sim um ser que pensa e sente. A chicotada irreal é um erro abstrato. O homem é apenas um homem. Sem certezas.
Que os corações aflitos e escorregadios um dia se encontrem.
Que eu bata na tua porta e me deixes entrar. Sem muitas explicações, eu não preciso, apenas me envolva em teus braços e diga que me aceita e estais pronto. Pega esse medo que te corrompe e o desfaz. Incendeia. Reserva um cantinho da eternidade para minha presença. Deixa eu tirar o teu sossego assim como tu o faz nos meus sonhos. Deixa eu retroceder até aquele dia que o teu sorriso enigmático me fez ficar intrigada por cogitar não ser verdadeiro e deixa eu desvendá-lo a cada dia do calendário até não existir mais chão. Deixa. Porque você sabe, bem no fundo, que aquela tarde de 25 de junho não fora em vão..

Epitáfio: Antônio foi espectro de homem, mas não foi homem. Só passou pela vida, mas não viveu. Fez tudo que queria e não teve tempo de apreciar o amor.