Mas eu morro de medo de não ser... Hugo Cavalcante

Mas eu morro de medo de não ser suficiente. Medo de nunca conseguir ser completo, de ser sempre esse copo meio vazio, esse livro mal terminado. Medo de ser feliz só pela metade, de ter um amor pela metade, uma vida pela metade. De eu não conseguir ser suficiente pra nada, e nada conseguir ser suficiente pra mim. Medo da vida. De viver. Ou pior, de nunca conseguir viver. De ser apenas um corpo, no piloto automático, fazendo o que se é obrigado a fazer, só sobrevivendo, nunca vivendo. Medo de esperar muito de tudo, e acabar me decepcionando. Medo de tudo esperar muito de mim, e eu acabar por decepcionar. Medo de deixar de ser quem sou, pra ser o que querem que eu seja. Medo de deixar de ser o que quero ser, pra ser o que eles acham que eu sou. E morro de medo de deixar de sentir. De deixar de ver com meus próprios olhos, de pensar com minha própria cabeça, de amar por mim mesmo, de ser feliz por conta própria. É medo. Medo, medo, medo. E repito, quem sabe, de tanto falar, aos poucos, ele se esvazia, e me liberta. E eu escapo dessa gaiola, e aprendo a criar asas e voar.