Uma voz me diz Adeus E outra voz me diz... Ziza Brooks

Uma voz me diz
Adeus
E outra voz me diz
Por favor, fica
E enquanto tudo se vai e se fica
Eu não sei quem sou ou se sou
Eu não sei se vejo ou se é tudo uma ilusão da minha cabecinha
Louca, estranha e feia

"De todo o amor que eu tenho"
Metade dele é por mim
E a outra metade é do mundo
Mas não há metade no amor
Nem distinção entre eu e o mundo
Há apenas um todo
Um todo que amo
E não sei se amo
Ou se é amor
Ou o que é amor
Sei que vivo
Sei que saio de casa às vezes
E vejo o mundo do lado de fora
Que é dentro
Que é tudo

Sei que de tudo ficou uma saudade
E essa saudade eu abafei com um sorriso
Um sorriso amarelado pelos cigarros que consumo

A minha insônia tem tantos nomes
Que se soubesse ditá-los não teria eu insônia
O meu medo é de fantasmas
Mas eu sequer acredito neles
Talvez meu pavor seja descobrir, que no fim
Não existo eu
Talvez ocupe eu um lugar que não me pertence
Em um mundo que idealizei dentro da minha cabecinha
Louca, estranha e feia
Talvez Deus seja o sol, afinal.
Então eu o olho para que saiba que o vejo como ele me vê
Talvez Deus seja mesmo um delírio
Mas quem diz que também não sou?
Ora, se sou solitária como o Deus que não acredito
Talvez devesse eu amá-lo, apesar de tudo.

Eu pude perdoar a todos
Meus pais, meus irmãos, meus avós
Meus amigos, meus vizinhos, meus inimigos
Mas nunca tive eu inimigos
Tampouco o perdão de qualquer um
Lembro até hoje do dia que fui crucificada
Não em minha pele
Nem julgada com meu próprio nome
Mas fui queimada em tantas fogueiras
E olhada de tantas maneiras cruéis
Justo eu, que nada fiz se não dar ao mundo o que fui
Mas ninguém entendeu
Ninguém aceitou
E ninguém perdoou
Mas eu os perdoo
E eu me perdoo por eles.

Você que me disse adeus
Respondo, se puder,
Adeus.
E você que me disse, por favor, fica.
Bem,
Eu fico.