AUTÓTROFO Há cansaço em existir...... Naty Parreiras
AUTÓTROFO
Há cansaço em existir...
Nula,
Desisti de todas as querenças.
Só
Quero regurgitar o veneno
Sistêmico
Do dia a dia
Expor o caos à exceção
Me fantasiar de tempo
E passar incógnita
Por cada ruela do esquecimento.
Eu morri à míngua
E o sol
Solitário e ambíguo
Tornou-se repouso à sombra
De uma lua qualquer.
Assombro-me da crueldade
Inanimada em olhos fixos
Distraídos do instante
Em que foram passíveis
De ver.
Cala-te boca
É o calabouço que te acorda
Subterrâneo
Ima translúcido de teus dedos
Metais de vidro
A atrair fragmentos ao vento.
Eu duvido
Que aceite o reflexo
Como ato involuntário
Do que tende a ser
Espelho
Desespero
Perto
Aperto
Não há pleito algum em quem
Esqueceu-se de reivindicar.
Fraco
A corda arrebenta do lado
Mais fraco
Mas apto à fraqueza
De arrebentar.
Só sei
Que só
Tenho aptidão para sobreviver.
E enquanto existo
Há uma naja sibilando
Dogmas em línguas febris
Contorcendo-se inebriada
Pelo claustro do próprio sufocamento
Por entre mágoas.
Agora vai
Troca de pele
Digere essa presa
Que abala o vazio
A fome
A finitude do ser
Que era
Antes do bote
E sobrevive.