O Paradoxo do Silêncio O silêncio... Naty Parreiras
O Paradoxo do Silêncio
O silêncio traduz um tanto da incompreensão, um quê do pecado de se permitir elaborar uma linha ou duas de discórdia, destas que condenam nossos desejos e expõem nossas limitações.
O silêncio que irrompe na madrugada, difere do que se esgota no torpor do sonho, quando a imagem define “o tom” da fantasia. É persuasivo, quase que personificado no contorno de nossos dogmas existenciais, muitas vezes pouco pragmáticos.
O silêncio desenha em sua sinuosa ilusão de permissividade, o sedutor intervalo de sobriedade que irriga o sangue de nossas derrotas e o consolo de nossas mentes desertoras.
O silêncio golpeia a indiferença de faca em punho, ainda que esta possa esconder-se sob o artifício de belas palavras. Estas, ele habita, instiga, investiga e por que não, PALPITA, permite que tomem forma, cede generosamente seu lugar para que pulsem.
O silêncio é um espaço que converge para as rimas, que abriga um tanto do sorriso contido pela ânsia de seu preenchimento ou dispersão. É um antídoto contra a ansiedade.
O silêncio é o representante legal da criação, a gênese do saber, o marco zero de nossa sapiência tão relativamente dialógica. É pacifista, tolerante, conciliador. É o que pode diferir o esperto do sábio: "quem cala NEM sempre consente", ainda que se sinta que já não se pode sentir.
Há quem o veja paradoxalmente como agente perturbador, ou porta-voz (?) da indiferença. Mas o silêncio porta-se como o tempo, senhor de si e de tudo que rege, ponderado e cabível além de nossas falíveis tentativas de mesurá-lo ou de julgar sua legitimidade.
O silêncio ainda que subjetivamente reconfortante, inscreve-se no coincidente da alma humana – o pensamento – que assim como o tempo, é sempre um relevante aditivo em nossa frenética descoberta, ainda que esta só revele-se na inexistência das respostas que tanto racionalizamos, em intervalos de pouca (ou nenhuma) sobriedade de nosso ânimos.