Vidas Cruzadas O que seria do mundo sem... Naty Parreiras
Vidas Cruzadas
O que seria do mundo sem as cores,
Dos jardins sem as flores,
Do ser humano sem valores,
Da verdade se não houvesse mentira,
Da calma se não fosse a ira,
Do silêncio se não fosse a algazarra,
Do crente sem a fé em que se agarra?
O que seria da luz sem a escuridão,
Dos homens sem perdão,
Dos dedos sem as mãos,
Da água sem a sede,
Do pescador sem sua rede,
E dos pés sem o chão?
O que seria das palavras sem os gestos,
Dos pobres sem os restos,
E dos músicos sem os maestros?
O que seria do levante sem o tombo,
Do aflito sem um ombro,
Do alívio sem a agonia,
E da noite se não houvesse dia?
O que seria do livro sem quem o leu,
Do reencontro sem o adeus,
O que será dos versos meus,
E dos meus lábios sem os teus?
Entardecer sem sol poente,
Rio sem sua nascente,
Inocente que se rendeu?
O que restou da gente,
Foi esse vazio dormente,
Que de tão grande nem se sente,
O que se ganhou e se perdeu.
Eu sem ti não sou nada,
Sou pássaro sem alvorada,
Sou livre de mãos atadas,
E tenho minha vida cruzada,
Por esse amor que se escondeu.
Eu sem ti sou isso,
O inferno sem o paraíso,
O choro sem o riso,
Tudo o que não tenho e preciso,
Eu sem ti simplesmente não sou eu.