.. Esses dias me peguei com muitas... Drica Bizzo

.. Esses dias me peguei com muitas saudades de minha cidade natal: SÃO PAULO... onde a vida ferve 24 hs. sem parar... onde você tem as quatro estações do ano em um dia... onde cada um vive sua vida... onde cada amizade conquistada, vira eterna...
... Me recordo que o respeito à vida alheia existia... meu vizinho podia fazer o que fosse, era problema dele... mas se precisasse, estávamos ali... existia o RESPEITO.
... o trânsito era insuportável, mas a gente descarregava ouvindo músicas, brincando, afinal, não tinha saída mesmo... era encarar com bom humor ou virava 'um dia de fúria'... (melhor sorrir...)
... na madrugada ouviam-se freadas de carros, buzinas, som alto, gritos, gemidos, um uivo ou outro por ali - nada de galos cantando ao alvorecer...
Alguns dias ainda sentíamos o sabor do interior ao som do 'carro da pamonha, direto de Piracicaba'... piada... mas delícia hoje relembrando da ingenuidade...
- Mudei para o interior, achando a paz... sim, a paz existe. (ilusória, dependendo do ponto de vista).
Quando me mudei, me irritei (por dias) com o som dos passarinhos ao amanhecer... e me toquei da loucura que São Paulo me fazia... 'como, meu Deus, me irritar ao som de pássaros?!?!?' me achei em plena quarta-feira, no meio da rua, sem passar um carro sequer!!! - 'morri????' (pensei) - não... estou no 'interior'... e sorri. pensando achar a tal sonhada 'paz'.
Andei na terra com pés descalços... senti cheiro de terra molhada com a chuva... ouvi o som dos bichos, o som do silêncio. Poucos em São Paulo já tiveram esse privilégio... o silêncio pleno... sem explicação.
- Cidade de interior ainda se pode dormir com portas abertas... cumprimentamos todos na rua com amabilidade... todos se conhecem...
Aí vem o defeito... 'todos se conhecem'..
Cuidam de sua vida, inventam, multiplicam...
Me pego pensando: - estou fazendo parte disso ou nunca fui??? estranha ainda no ninho?!
Acabei me deparando com outro lado da vida... de 'cidade pequena'... onde não somos mais um rosto na multidão. Aqui temos ENDEREÇO.
Leia-se: todos sabem onde você mora, o que faz, com quem sai, quem entra, o que come, quem não gosta, o que comeu (pelo que peidou), vasculham seu mais íntimo lixo, criam histórias hilárias que você jamais viveu...
(um dia espirrei dentro do meu quarto e ouvi, da rua: 'saúde' - sabe-se lá de quem).
Meus conceitos de vida são tão alheios a 'pequenices' dessas, que me volto em recordações da época em que vivia no meio do turbilhão paulista e nem me dava conta de como era boa a irritação de horários de pico, buzinas, trânsito, rostos anônimos na multidão... cada um cuidando da sua vida, preservando suas amizades como ouro (minhas melhores e maiores amizades são dessa época) mas se precisando... estávamos ali... para o desse e viesse...

Ahhh.. saudades de São Paulo...