O tempo para quem se importa Aquele dia... Alexandre Scaldaferri
O tempo para quem se importa
Aquele dia começou, após uma noite mal dormida, com umamúsica no fundo, bem lá no fundo da cabeça, imperceptível, mas insistente. Arotina de sempre: levanta, lava o rosto, escova os dentes, dá uma olhada noespelho, faz a barba... Neste momento vem à mente as tarefas do dia e tudocomeça a acelerar, a mente foca no que tem de ser feito, o corpo segue asdeterminações e tudo entra no automático. Naquele dia tudo podia ter sido diferente,mas a vida contemporânea exige e cobra o tempo.
O tempo é o que se teve, se tem e terá. É o que deixa a vidafeliz ou triste, prazerosa ou penosa. Aquele dia começou e o tempo de lá paracá já se foi. Neste relacionamento intenso entre a vida e o tempo é precisocuidado para com o segundo de tal forma que o primeiro seja beneficiado. Seassim não for, a vida pesa e o tempo se rebela. Não adianta esconder, mentir,ajeitar, dissimular, fingir, não olhar..., pois o tempo é transparente esensitivo. Esta presente querendo ou não, gostando ou não. Ele não tem escolha.
Anteontem pensou-se no amanhã e a promessa foi feita: nestetempo escasso, a música lá do fundo sairá e vai tomar corpo e será tocada eescutada na integra com direito a reflexão e até repetição, mas o amanhã já foioutro dia e se tornou o ontem e a canção reprimida continuou lá no fundo,escondida atrás das fachadas erguidas para manter algo de valor duvidoso.
E o tempo hoje se apresenta e novamente a promessa é feita erefeita. Quem sabe amanhã tudo muda e a música poderá tocar num tempo normal,menos acelerado, menos dinâmico e assim a fala poderá ser dita e escutada, ocarinho poderá ser dado e recebido, tudo com profundidade e tempo para serapreciado e trocado.