NEM CERTO, NEM CORRETO Isso não tá... Gustavo Lacombe

NEM CERTO, NEM CORRETO

Isso não tá correto, eu digo.

Não mesmo, ela concorda.

Mas nem adianta. Cinco segundos depois as línguas se encontram as minhas mãos estão sendo preenchidas pelo pano da saia dela, pelo algodão da blusa e, volta e meia, pelos cabelos dela. Parece o balé de um polvo que tenta percorrer toda extensão de um corpo em pouquíssimo tempo. Aprendi isso com um amigo que dizia ser preciso ter “mãos espertas”. “Bobas” eram aquelas que se deixavam pegar paradas em algum lugar por muito tempo.

Eu gosto dela.

Gosto do que a presença dela faz comigo e de todas as outras sensações que vem junto. Ela fala que é química, eu curto a física e a gente vai fazendo a matemática de ser um mais um multiplicados por uma vontade em ebulição. Pra continuar no assunto, sinto um ímã nela que me chama. Mal sei como aguentei tanto tempo com essa reclamação em mim a pedindo toda vez que passava na rua dela. Ou só de lembrar mesmo.

E, sei lá, tem pessoas que não precisam de motivos para serem lembradas. Era e é assim com ela. Nem ao menos é o fato de terem sido esquecidas em algum momento, mas porque já fazem parte da rotina boa de completar os nossos dias com suas presenças. Ainda que essas presenças sejam apenas na nossa cabeça.

Errado. A palavra martelava na cabeça. Mal dava tempo da saliva arrefecer o ímpeto que a culpa já entrava com tudo. Por quê? Bom, digamos que nossos caminhos se cruzaram quando não deviam, mas as transgressões que praticávamos estão liberadas hoje. Ninguém deve nada, só que ainda pesa o histórico. A gente se confia, sim, pra realizar os desejos um do outro. Passar disso, não sei. Desde sempre foi assim. Meio torto, meio errado. Ainda assim, coerente.

A gente se gosta. Claro e certo.
Foda-se o correto.