Você também sabia. Aliás, soube desde... Lucas Carneiro de Oliveira

Você também sabia. Aliás, soube desde quando eu te disse. Lembro que, deu pra ver pela tua cara de espanto, pelo modo como teus olhos me engoliram, apesar do descansar sereno e quase indiferente de tuas sobrancelhas, que não era exatamente o que esperava ouvir. Mas não obstante, sorriu. E como poderia esquecer? Se era como se o teu rosto se dividisse entre dia e noite. Luz e trevas. O olhar mais piedoso e o sorriso mais encorajador do mundo. Foi algo parecido com a sensação de quem pisa em uma escada rolante desligada. Eu era a sua escada naquele momento. Você se desequilibrou pra frente, segurou-se no ar e, mesmo assim, mesmo sendo nítido que a saliva na sua boca havia se tornado árida e teu ar rarefeito, continuou em mim. Andando. Já não posso mais dizer se pra cima ou pra baixo. E hoje, estamos aqui. Enrolados em lençóis que não são nossos, quebrando promessas que nunca existiram e nos perdendo em sonhos que você sabe, nunca serão realidade. É o que eu imagino que esteja fazendo, enquanto eu te olho dormir, sonhando. Á pouco tudo era mais fácil, menos consequente. Nos enrolávamos, nos afundando em nosso suor enquanto sua boca alimentava a minha, e meu cheiro te entorpecia. E era tudo mais fácil, ao que parece. Estou te olhando dormir sem roupa, enquanto me decido se, mais uma vez, simplesmente vou-me e, confirmo o que você sempre soube: Nunca serei seu. Na verdade de ninguém. Mas menos seu porque você, ao contrário de todos, me ama incondicionalmente. De um amor que me deixa de mãos atadas. Que não tenho como retribuir. Se eu cuspisse em tua cara, me olharia nos olhos e diria : "Eu te amo!". Ou se fico, e me conformo que talvez, pra você, somente me deixar ser amado já seja o suficiente.