A espera Era para ser apenas uma... Nanevs
A espera
Era para ser apenas uma brincadeira, mas o destino, como quem quer brincar também,
resolveu interferir e revirou tudo sem se preocupar com as consequências.
Uma teia, um amaranhado...e ela lá, cada vez mais se embrenhando, sem sentir
o perigo rondando.
Não teve nunca a intenção de machucar, ou mesmo de iludir. Só queria mesmo se divertir.
O mal estava feito, mas ela não percebeu. Embora como que por intuição, se aproximou
mais e mais do precipício. Deixou-se envolver e ladeira abaixo mergulhou, crente estar segura...
Nada mais importava, só o fato de alcançar o objetivo da sua loucura. A meta desejada e
insanamente buscada. Não percebia que o lume era lodo e que cada vez mais a arrastava
às profundezas sem deixar possibilidade de voltar. E ela mergulhava cada vez mais fundo...
A teia ser formou, asfixiou. O ar já rarefeito, faltando cada vez mais...pediu a Santa que
a aliviasse. Fez novena, rezou o terço, se ajoelhou, implorou, chorou. Mas a Santa não
a ouvia...parecia surda, ou quem sabe ouvia apenas quem sabe rezar (não era o seu caso).
A noite, que antes se fazia clara e com luar, agora se faz negra e fria. O ar, que faz falta aos
pulmões, também negros e doloridos, é fétido e escasso.
Ela clama pela morte. Chama-a a todo instante, não suporta as dores. As teias a prende
com tanta força...enforcam, faz doer e doer e doer...se ao menos pudesse dar fim a tudo...
Uma bala na cabeça, um veneno fulminante, um suicídio honroso...ainda não. O tempo
não para, e a mãe espera dela, mesmo sabendo que já não pode dar o que precisa.
O poço é profundo. A luz não existe, só a escuridão...as vozes que ouve são de seres
nefastos induzindo-a à morte. Ela vai indo...mais e mais...se afundando na lama fétida.
Não precisa mais de mão alguma. Sabe se matar sozinha...mas ainda não pode ser
agora. Alguém, que também se vai (para o céu), tenta desesperadamente ficar, na mera
e vã esperança de acender a luz nos olhos dela. Tenta em vão mostrar que o túnel pode
acabar e o sol surgir.E nessas mãos entrelaçadas, da morte boa com a morte má, o destino
vai brincando enquanto elas não chegam.
A mãe, fragilizada e caquética, carrega com galhardia o peso nos ombros da filha mergulhada
nas teias que teceu e que agora não sabe se desvencilhar. Esperam pela morte que teima em não
chegar. Esperam unidas pelo fim amargo que hão de as separar num outro plano.