É pela fome, palavra que recusa... Aline Diedrich
É pela fome, palavra que recusa qualquer argumento. É pelos altos preços dos produtos que consumimos todos os dias. É por um País que não sabe o que fazer com seus jovens que escolhem o caminho da criminalidade. É pelos pais que enterraram seus filhos vítimas da violência, e por aqueles que perderam os filhos para uma verdadeira epidemia do crack. É por leis importantes que são ignoradas. É por aproveitarem um minuto de nossa distração para, na surdina, votarem em injustas propostas de emendas constitucionais que facilitam a corrupção ou de tamanha bestialidade que pode incitar ainda mais a discriminação num suposto “País de Todos”. É por terem feito manobras na tentativa de nos ludibriar. É pelos interessantes movimentos que, separadamente, não foram ouvidos. É por estarmos cansados da impunidade para os que desviam bilhões dos cofres públicos. É por não sabermos onde vão parar os bilhões que saem de nossos bolsos em forma de impostos. É pela mísera parte do peixe que é dada, enquanto se recusam a ensinar o povo a pescar. É pela educação precária. É por um sistema único de saúde que martiriza com suas enormes filas. É pelas pessoas jogadas no chão dos hospitais. É pelo trabalhador pessimamente remunerado. É por serem absurdamente altos os salários daqueles que elegemos. É pelo País ter sido maquiado para turista ver. É para fazer valer a expressão “Ordem e Progresso” que estampa o meio da Bandeira Nacional. É porque desde pequenos cantamos e agora reafirmamos “Verás que um filho teu não foge à luta”. É para que não seja depravado o termo “política”. É pelo fato do governo se dizer perplexo, pois quem esperaria a revolta de um povo tão alegre e festivo? É pelas ideologias que foram esquecidas. É para efetivar a democracia. É por todas as causas.
Sim. É para pedirmos investimentos em educação, saúde, segurança, transporte público e na belíssima e diversificada cultura brasileira. Sim, é para pedirmos honestidade por parte daqueles que escolhemos como nossos representantes.
Não acordamos. Sequer dormimos, porque o berço jamais foi esplêndido. Nossa indignação é que ganhou voz.
Francamente, não sei como serão chamados os manifestos que tiveram como estopim o aumento de 20 centavos no transporte público. Mas desejo que as crianças do futuro possam saber que a luta de 2013 não foi vã.
Desejo também que possamos manter aguçados o nosso senso crítico e participação política.
Que a indignação e o barulho das ruas chegue até as urnas!