Ontem a noite, por volta das 20h, estive... Ket Antonio

Ontem a noite, por volta das 20h, estive num shopping de "grã-finos" (onde costumo ir para comer e não para comprar, claro) e algo ali me deixou muito, muito, mas muito chateada e ao mesmo tempo intrigada...
Reparei uma senhorinha bem velhinha e delicada, sozinha, que vez em quando passava por minha mesa andando devagarinho e depois se sentava numa mesa atrás de mim, última fileira de mesas bem afastadas da parte central da praça de alimentação, isolada, de uma forma que somente alguém observador pudesse notá-la. Eu, observadora nata, com olhos na nuca e curiosidade extrema, me atentei nessa senhora e meu jantar não foi mais o mesmo...
Mais uns minutinhos e lá vinha ela, devagar, cabelos totalmente brancos, rosto bonito e tranquilo. Forte, nem parecia que o tempo a havia maltratado. Pessoas andando ao redor sem notá-la. Ela se fazia invisível até o momento que alguém, com a pressa da juventude, esbarrou em seu andar cansado de pressa.
Meus olhos a seguiam admirados. O que tanto essa velhinha busca? Estaria perdida? Estaria aguardando alguém? Não, ninguém a estava procurando. Ninguém dava falta dela naquele universo de madames, empresários, playboys, patricinhas e crianças mimadas. Mas eu estava ali reparando-a. Não sou porcaria nenhuma nem melhor do que ninguém, mas dali, certamente, eu era a única que naquele momento não estava preocupada comigo mesma.
Por culpa da minha curiosidade, notei a mais "infeliz" situação que jamais poderia imaginar daquela senhorinha... Ela estava ali pegando latinhas que as pessoas acabavam de jogar nos lixos. Ia, pegava o que as mãos poderiam segurar (e com sorte era mais de duas) e voltava a se sentar. Olhava atenta as latinhas das mesas ocupadas e aguardava uma nova oportunidade para, devagar, se levantar e ir buscar seu "tesouro".
Eu, que bebia um suco de lata, não pensei duas vezes: não vou fazê-la buscar minha lata consumida no lixo. Vou levar até ela, é o mínimo que posso fazer. E pra minha surpresa a gratidão desse gesto medíocre meu foi imediata! Que sorriso lindo era o dela! E ainda tive que escutar um "Deus te abençoe minha filha". Nessa hora só consegui perguntar o nome dela, que baixinho confessou: Teresinha. Me despedi e não contive minhas lágrimas! Dane-se que as madames me olhavam chorando!
Pensei: ela deveria estar numa casa quentinha, com sua família lhe dando atenção e retribuição.
Minha revolta: não poder fazer nada mais do que levar uma latinha vazia para ela e, chorando, pedir a Deus que a ajudasse.

(13/06/2013)