Em um de seus belíssimos contos,... Isabela Reis
Em um de seus belíssimos contos, Clarisse Lispector tratou da felicidade, mas não de um modo geral e sim da felicidade clandestina. Uma garota, após ser vítima da maldade de outra que a fazia ir todos os dias à sua casa, para que esta lhe emprestasse um livro, o qual queria muito ler, finalmente, após dias e dias de expectativa, consegue o tal. Mas ela não começou a lê-lo imediatamente; "fingia que não o tinha, só pra depois ter o susto de o ter." E ela criava várias situações para que "esquecesse" de que o possuía, e, com isso, tinha a toda hora aquela felicidade de encontrá-lo ao acaso; perdê-lo, esquecê-lo, reencontrá-lo. E essa é a maior de todas as felicidades, aquela que vem aos poucos, quando se finge ter perdido, ou esquecido, somente pelo prazer do eterno reencontro.