Que venha Junho! Pode entrar! Deixarei a... Iandê Albuquerque
Que venha Junho! Pode entrar! Deixarei a porta escancarada pra cessar esse sentimento de saudade mal assombrada que Maio me deixou. Que venha e sente-se sem se preocupar. Que entre sem se importar com a hora de partir. Que chegue sem bater a porta, de mansinho. E que se caso chegar a hora de ir…. Vá, sem bater a porta e sem deixar a sensação de dever não cumprido, de sonhos incompletos, de passos mal feitos. Sem pedaços de infelicidade em baixo do tapete e metade de sorrisos presos na geladeira. Que venha Junho para varrer tudo que ficou sem pretensão, espanar tudo o que impregnou sem permissão, tudo o que grudou, ofuscou os meus sorrisos e me fez esquecer de notar a luz do dia, ou passar despercebido por mim mesmo. Que venha Junho remover toda poeira de quem passou por aqui e não deixou número de retorno, de tudo que passou por aqui sem deixar rastro. Quer saber? Que Junho sirva pra lavar tudo de infiel que conseguiu se aproximar de mim. Que venha para me trazer bons ventos, bom tempo, boa vista, e claro, que me faça sentir-se suficientemente mais completo. Que me faça notar mais a minha presença, que inclusive, me permita notar a luz do dia. Que me traga os detalhes que Maio me levou. Que me traga a voz da Elis Regina. Que me traga presença divina. Que me traga chocolates sem controle e que recue a diabetes. Que carregue as mazelas, os trapos, os trecos, os traços sem ponto de equilíbrio; o caminho sem direção. Que venha Junho, tomar um café a qualquer hora, acompanhar um vinho qualquer dia, desapegar as ilusões que Maio me pregou. Que venha Junho me trazer novos dias, e tempo. Muito tempo pra fazer valer a pena tudo o que perdeu valor por falta de tempo em Maio. Que venha pra me doar tempo suficiente para concluir e continuar o que Maio deixou. Que me traga mais abraços demorados e menos sorrisos passageiros. Mais livros, mais música, mais amor. Que me traga um bom astral pro meu signo. Que venha logo, Junho! Me ensinar o que ainda não aprendi. O que, com o Senhor Maio não fui capaz de aprender.