Não importa quantas vezes mais meu... Joice Camargo
Não importa quantas vezes mais meu coração me sabote, quantas vezes eu me defenda de todo amor que ele pode sentir, não importa quantas dores eu imagine que nunca acabem, não importa quantas mil vezes isso aconteça... sempre dói... dói de um jeito que eu chego a pensar que não vou suportar. Dói ao ponto de eu olhar pros lados e mais uma vez, não saber por onde começar, e mesmo sabendo que eu já passei tantas e tantas vezes por isso, é sempre uma dor tão forte, que me faz afundar no máximo de toda a minha loucura tentando encontrar alguma coerência pra viver nesse mundo tão falso e tão cruel.
Queria um pouco de ingenuidade, um pouco de ilusão, ser fria e realista é cruel comigo mesmo, porque não sei enfeitar as inverdades, não sei viver de meio termo, não sei fingir que está tudo bem... como eu queria não saber, como eu queria acreditar mais nas pessoas, só um pouco, precisava só de um pouco mais de maldade, uma certa falta de lealdade, pra que quando elas me traíssem, eu não me sentisse tão imbecil, tão ridícula, e tão frágil por ter dado a elas, toda a minha verdade.
E agora? Pergunto a Deus. Mais uma vez estou afundada no abismo da mentira, e Deus, eu não quero mais lidar com isso, eu não consigo mais, me ajuda a carregar essa cruz, me ajuda me dando um pouco mais de frieza, um pouco mais de indiferença, para que seja isso e apenas isso que eu devote a todas as pessoas que eu preciso esquecer.
Tira esse passado que bate na minha porta todas as vezes que eu penso estar livre, tira esse presente que me machucou, tira Deus, essa dor que eu não sei lidar.
Amanhã, quando eu acordar, e meus olhos já estiverem secos a ponto de eu enxergar o sol... amanhã quando eu conseguir dar risada de qualquer piada idiota a ponto de não me espantar por estar rindo... amanhã, quando eu ajoelhar, vai ser pra agradecer, que não há mal que dure pra sempre. E quem sabe assim, eu consiga entender, o porque de apesar de doloroso, eu precisava deixar algumas pessoas morrerem dentro de mim.