Decidido Acordei e percebi ser o que... Anne Py

Decidido

Acordei e percebi ser o que sempre quis- e, aliás, sempre fui. Mas o espelho, vilão, sempre me ressaltava os defeitos. Atraia luz para os lugares errados, zombava-me toda manhã, como que cúmplice da dona da maçã envenenada. Uma afronta! Um verdadeiro absurdo…- e este foi e, para sempre será, meu último choro e murmúrio. Mesmo com meus desejos eternamente embaçados e o culote avantajado, cada passo meu atraia olhares, sorrisos- e eu, claro, em total espanto, deliciava-me em graça. Não era alface nos dentes, eu bem verifiquei. Falava firme, inteligente. Sorria frouxo. Seria apenas o batom novo? O dia passou em puro embaraço, firmando com nó e laço, minha auto-estima e confiança. De frente a uma vitrine, o reflexo. Realmente, era linda! Quantas noites por tolice não dormira… E quantas festas perdidas! Em um trato comigo mesma, olho no olho, encarei minha beleza sincera. “Nem mesmo um bad hair day terá o direito de arrancar a covinha que enfeita minhas bochechas rosadas”- cantarolei em voz alta. E, assim, declarei-me dona de um não- bronzeado-Ipanema incrível. Um gingado torto, um tanto quanto paulistano, e tão indiscutivelmente meu- a carioca da gema sem samba no pé. Declarei-me dona de cada sarda no nariz, ponta dupla e da boca carnuda. Dos cílios e seios grandes. Declaro-me pois, em completo amor por mim mesma, mimando-me com vestidos de bolinha, gloss e lingerie. E, que me desculpe a Avon, mas amar-me suavizou minha expressão como nenhum Renew o faria. Se nua, ainda assim estaria bem vestida para sair à rua, gritando minha vivacidade e, enfim, liberdade. Eu, de cara limpa e alma lavada. Eu, feliz.

Acordei e percebi ser o que sempre quis- e, aliás, sempre fui. Mas o espelho, vilão, sempre me ressaltava os defeitos. Atraia luz para os lugares errados, zombava-me toda manhã, como que cúmplice da dona da maçã envenenada. Uma afronta! Um verdadeiro absurdo…- e este foi e, para sempre será, meu último choro e murmúrio. Mesmo com meus desejos eternamente embaçados e o culote avantajado, cada passo meu atraia olhares, sorrisos- e eu, claro, em total espanto, deliciava-me em graça. Não era alface nos dentes, eu bem verifiquei. Falava firme, inteligente. Sorria frouxo. Seria apenas o batom novo? O dia passou em puro embaraço, firmando com nó e laço, minha auto-estima e confiança. De frente a uma vitrine, o reflexo. Realmente, era linda! Quantas noites por tolice não dormira… E quantas festas perdidas! Em um trato comigo mesma, olho no olho, encarei minha beleza sincera. “Nem mesmo um bad hair day terá o direito de arrancar a covinha que enfeita minhas bochechas rosadas”- cantarolei em voz alta. E, assim, declarei-me dona de um não- bronzeado-Ipanema incrível. Um gingado torto, um tanto quanto paulistano, e tão indiscutivelmente meu- a carioca da gema sem samba no pé. Declarei-me dona de cada sarda no nariz, ponta dupla e da boca carnuda. Dos cílios e seios grandes. Declaro-me pois, em completo amor por mim mesma, mimando-me com vestidos de bolinha, gloss e lingerie. E, que me desculpe a Avon, mas amar-me suavizou minha expressão como nenhum Renew o faria. Se nua, ainda assim estaria bem vestida para sair à rua, gritando minha vivacidade e, enfim, liberdade. Eu, de cara limpa e alma lavada. Eu, feliz.

http://glacecomlimao.wordpress.com/2013/04/20/decidido/

Anne Py