Dia desses, o Globo Repórter mostrou... Meg Lima
Dia desses, o Globo Repórter mostrou uma realidade que poucos, bem poucos conhecem. Antes de partir pra esse trabalho no Sertão - Gravação de um DVD, eu tinha uma vaga ideia, achava que a vida se resumia na pobreza... Até que tive contato direto com a miséria. Sim. A miséria existe no nosso país. Pessoas que comem mal hoje, sem saber se vão comer amanhã. Que vivem descalços, que não têm banheiro dentro de casa, e nem fora, o que eles têm é um buraco, apenas isso. Um povo que não tem acesso fácil a água potável... Eu to falando de gente. Gente como a gente, mas completamente abandonadas pela política, e excluída pela sociedade. Gente que não é lembrada.
Gente simples, que ama o trabalho, mas não encontra. Gente que cresceu na roça, trabalhando dia a dia, sol a sol... Uma terra seca e árida que consome tudo que eles plantam. Um povo que não sabe o que é colher o que semeou um dia.E por incrível que pareça, um povo que sorri, um povo que não reclama.
Me lembro exatamente do momento em que estávamos eu e Alex no avião, já chegando no Rio... Eu olhei pra ele chorando muito e ele muito emocionado tbm. Tínhamos o mesmo sentimento: como vamos continuar depois de tudo que vimos e vivenciamos? Como vamos retomar a nossa vida, o banho quente, as melhores roupas de cama, cobrindo um colchão caro? Como? E dissemos um ao outro em silêncio.
Eu sei que não fui à toa aquele lugar. Eu sei que vou continuar, de uma forma ou de outra, eu sei que vou. Pq quem pisa em terra seca não volta pro seu estado da mesma maneira. Quem contempla o céu mais azul de dia e mais estrelado à noite não tem o mesmo coração. Quem olha nos olhos daquele povo não vai embora sem levar nada. Quem tem contato direto com a miséria, não enxerga mais a vida com a mesma ansiedade. A zona de conforto já não é mais tão confortável assim.
Em Belmonte, ficamos hospedados numa espécie de sitio, onde tbm ficam hospedados missionários de diversas denominações do mundo inteiro. Foram os dois dias mais longos da minha vida. Um quarto limpo, muito limpo, mas cheio de pererecas, um quintal cheio de sapos à noite, muita mosca, muito mosquito, muito marimbondo, além de uma comida que eu não era acostumada... Mas aquele lugar tinha cheiro de amor, tinha a cor da doação.
Eu imaginava, mas não sabia o preço que se pagava de morar ali, de estar ali, de viver de doação das pessoas, em prol de ajudar a quem precisa tanto. Eu sempre soube que um missionário paga um preço alto, só não sabia que na prática era tão alto assim. Desde aquele dia, passei a orar mais por esses homens e mulheres que abdicam de luxo, de família, de amigos, de restaurantes, de roupas caras, de bolsa da moda, pra amar quem não conhece. Hoje, mais que nunca, eu não tenho dúvidas de quem mais ganha com isso tudo. Pq doar tem mais peso do que a própria palavra quer dizer. É deixar de viver pra lutar pela vida do outro. É ter disposição de amar quem não tem o teu DNA.
Se vc não pode, não consegue, ou não quer pagar esse preço. Faça ao menos o que a sua limitação te permite. Nas suas orações, lembre desses missionários. Se vc trabalha, se vc tem dinheiro, por menor que seja a quantia, contribua, querido. Esse é o trabalho mais lindo e genuíno que já conheci. Eles só vão aonde não queremos ir, pq alguém viabiliza.
E que Deus nos abençoe!