Ultimamente tudo me cansa, a música mal... Allana D. Ferreira

Ultimamente tudo me cansa, a música mal digerida, as palavras não ditas, o silêncio fazendo meus ouvidos doarem, amores mal vividos, sentimentos mal resolvidos, as pessoas, é isso, as pessoas me cansam. Sorrisos maquiavélicos, verdades com odores sarcásticos, aperto de mão com facas, fantasmas da ópera querendo fazer com que os outros acreditem em ficção sórdida. Ladrões e colecionadores de corações, jarros infestados de lágrimas e olhares vazios dando luz de neon aos iludidos. Me cansa ter que acreditar que não sou diferente e, não, não sou um buraco negro fora de controle, mas às vezes, só às vezes, eu sinto aquele vazio, aquele cansaço absurdo de sentir de mais, de não sentir nada, de não acreditar, de não estar e de não ser. Estou cansada, cheia de abuso de tudo, da hipocrisia que polue o ar, que infecta a pele, a mente e deixa tudo, absolutamente tudo exausto, sem força para crer que se pode ser o que se pensa, o que se quer, e ao longo dos dias tudo isso se fixa, e acaba com você, se fazendo acreditar que se pode viver assim, enganando a sí próprio e aos outros. Tão fácil perceber que está tudo errado, fora do lugar, do ritmo, é fabuloso preceder quão longe vai a imaginação de um ser humano, achar que sabe de mais, que já viveu de mais, é cômico quando se nota quão ilusionista a vida pode ser, porque sabe, eu não sou nenhuma Clarice Lispector ou uma Clarice Corrêa, nem tão pouco uma senhora de 50 anos, com metade da vida vivida, mas eu entendo, eu compreendo os riscos, sei o quanto absurdo e assustador a maioria das coisas pode se tornar, mas entenda bem, eu nunca quis ser um exemplo. Às vezes tenho desses alguns ataques, então eu escrevo, eu me canso, me torturo e me encho de nostalgia até que eu consiga pegar no sono. Entendo tantas coisas que pareciam adormecidas aqui dentro, novos planos, sonhos, certezas, e percepção se formam, mas… O problema é, quando você dorme, você relaxa a mente e na verdade, o cansaço some na manhã seguinte.