Não sou de falar, mas eu gosto de... Bianca Rodrigues
Não sou de falar, mas eu gosto de você.
Saudades caladas, se é que sinto algum tipo de saudade, mas não importa.
Você me deixa aliviada, trás calma pra minha alma, sem ao menos fazer esforço.
Porque choras silenciosamente?
Porque és feliz misteriosamente?
Levanta da cama como num dia qualquer, fazendo suas tarefas do seu dia a dia.
Mas não muda nada, já é rotina. Toma seu café fora de hora. Pensa em mudar alguma coisa do lugar, pensando melhor, melhor deixar como está.
Escreve frases, mas nunca acaba. Romances de imaginação fértil. Seus contos de fadas parecem um tipo de realidade, se entregando de si ou tudo de si, em cada palavra. É tão sério. E me fala dos seus pedaços de versos um pouco sem sentidos, mas é bom de ouvi-los. Não ligo. Sua respiração ofegante, cantando músicas estranhas que nunca ouvi, mas também não custa nada ouvi-los novamente. Ela não vê o que vejo. Não sente o que sinto, mas tem a tamanha esperteza de entender o que transmito, e eu como sempre me calo diante da sua inteligência infalível.
Gosta tanto de contar sobre sua vida, amores passados, mas há segredos que não contaria. Coisas dela. Gosta de frequentar lugares diferentes, talvez um pôr do sol, bastaria para ela. Não a entendo, mas tento.
Não a descubro, mas guardo.
E seus gestos mútuos, muitos.
Um pouco reparável.
Ela é só uma menina de 17 anos, como poderia dizer que tenha 20?
Escrever coisas que aliviaria. Caminha entre cinzas da vida procurando saber mais sobre o amor e de que dor lhe causaria, provavelmente faz perguntas sem saber direito da resposta, e se sabe de alguma resposta.
Faria bem um cigarro entre os dedos nas noites de frio em cima da pedra do arpoador esperando o sol nascer, caminhar na orla da praia até anoitecer novamente, ir para a casa pensando que aquele momento não mais voltaria. Tirar toda a sujeira do corpo prometendo a si mesmo que nunca mais fumaria, além do mais, sabe que faz mal. Tira a maquiagem, o batom vermelho que tanto adora, ir se deitar em sua cama e pensar na sua vida normalmente.
Não sou de falar, mas ainda sim gostaria de gostar de você.