Ser vista de perto assim, dá medo.... Marcella Fernanda
Ser vista de perto assim, dá medo. Estar exposta desse jeito, dá medo. É inevitável lembrar de todas as histórias anteriores e dos finais que eu abortei. Dos sonhos e planos que eu manchei. De tudo que eu perdi, do pouco que eu ganhei. As falas e cenas sempre me parecem deja vu e eu recuo, como se fosse uma segunda oportunidade de sair antes de sangrar, da mesma história de sempre. Mas não é e não sei o que assusta mais: o velho ou o novo. Eu passei anos trabalhando meu desapego, porque teria sido insuportável viver acreditada pra sempre. E uma das minhas maiores conquistas- e dores também- foi conseguir seguir com a minha vida, apesar de qualquer pesar, porque ser sozinha era uma solução e não problema. Ter a certeza de que eu ia ficar bem, como sempre e que o fim sempre chegava, então quanto antes melhor. No dia em que eu aprendi a dar tchau com facilidade, a ser a primeira a acenar de longe, a dizer adeus antes de oi, me dei uma estrelinha de ouro. Morri de orgulho. Morri um pouco também. E o que me dá mais medo, de toda uma lista infinita de medos, é essa desconstrução de tudo que eu tenho, sei, sou. E o fato de que essa desconstrução me deixa leve de um jeito viciante, como se fosse tudo que, no fundo, eu sempre precisei. Voltar a acreditar e esperar, ainda que involuntariamente, me deixa em pânico, juro. Porque eu já remei tanto em vão, morri tanto afogada, que se eu cair de novo, não sei se lembro como levanta. Faz tanto tempo que eu não caio e sei que isso é o tipo de coisa que tem força pra me derrubar. E força pra me fazer completamente feliz também. Só espero que seja usada a força certa