Sobre minha infância? A única coisa... Jessica Marquez

Sobre minha infância? A única coisa que tenho a dizer é que sinto falta daquela época. A época em que eu era a garotinha do papai. Saudade de quando eu subia nos pés do meu pai e nós ficávamos rodopiando pela sala. Saudade de brincar com lama mais minhas primas. De dormir com meus pais quando tinha bicho papão debaixo da minha cama. Saudade do tempo em que um beijinho da mamãe sarava qualquer machucado ou dor. Sinto falta da época em que nada fazia sentido, mas chegava a um ponto de ser incrível só por existir. A época em que qualquer “te amo” era verdadeiro e colega de escola poderia ser chamado de amigo no primeiro dia de aula. Sinto falta de não ter nenhuma obrigação se não pintar meus desenhos. Sinto também falta do tempo em que eu me preocupava apenas em ficar em frente à televisão esperando meu desenho predileto começar. Saudade de enfiar somente os pés na piscina esperando que alguém me carregasse pra lá e pra cá, pois não sabia nadar. Sinto falta de ter super poderes e de brincar na rua. Saudade da época em que eu passei pelo momento mais difícil de toda minha infância: andar de bicicletas sem as rodinhas. Sinto falta de quando eu falava uma palavra errada e as pessoas riam em vez de me chamarem de burra como fazem hoje em dia. Saudade de pregar tatuagens de chicletes nos meus braços. Saudade de ficar na cozinha esperando minha mãe fazer a cobertura do bolo para eu poder rapar a panela. Sinto falta da época em que era carregada até minha cama pelo meu pai ou minha mãe quando eu dormia no sofá. Saudade de tudo isso, pois tudo isso fez com que minha infância fosse perfeita. Hoje só me restam fotos e algumas lembranças. Nunca esquecerei daquilo que pra mim foi minha melhor época, infelizmente, só percebi isso quando a fase já tinha passado, as obrigações chegaram e as decepções vieram juntas. Como é bom escutar minha família contando casos de como eu era atentada quando criança, isso faz com que eu possa reviver minha infância durante alguns instantes. Sim, minha melhor época passou, mas eu soube aproveitar. Eu era feliz e sabia, pois eu fiz com que cada momento me rendesse memórias. Hoje eu acho essa coisa que eu chamo de “realidade” tão ridícula, difícil, e sem alegrias comparadas as minhas grandes aventuras de infância.