O beijo poderia ter ocorrido muito tempo... Mary Princess
O beijo poderia ter ocorrido muito tempo antes. Oportunidades não faltaram. Desejo também não. O beijo ganha o sentido que você quiser. Nenhum, talvez. Se apenas amigos são. Da amizade para o amor basta apenas um passo. Ambos sabem. Ambos talvez não compreendam que muitas vezes esse passo se dá sem que percebam, que queiram.
Amam-se no gelado terreno da desilusão, sem qualquer retorno, complicando as intenções. Afastando aos gritos, retornando aos prantos. Indecisos demais para confessar. Amedrontados. Arriscar deveria ser o lema.
Amam-se quando sorriem, quando as mãos se encontram, se tocam, se entendem, quando são tão pequenos perante o mundo, quando se incluem em ambos os planos e quando estes não possuem sentido sem incentivo. Subentendidamente. Sorrateiramente. Um suspiro pelo fim.
Ela sabe que está amando, que esse beijo não foi apenas um pueril imprevisto, que para ele são apenas amigos. Nada além de bons amigos. E sem olhar dentro de seus olhos. Não pode mais. As lágrimas despencam. Cachoeiras de emoções reprimidas. Passam tanto tempo juntos que muitas vezes não percebam o quanto são relativamente compatíveis e se amem a ponto de se odiar às vezes e esse mesmo ressentimento terminar em questão de minutos, regado a cafunés de conversas até o amanhecer.
Ele insiste para que ela o olhe. Tudo bem, diz ela, mesmo não estando. Fingindo mais uma vez. De tantos segredos compartilhados, ele se tornou mais um. Inconfessável, vide as circunstâncias, aos determinados pareceres, a indiferença dele.
Contemplando seus vivazes olhos sabe: já não o vê apenas como seu melhor amigo. O vê como homem. E sabe que se caso permita que esse amor dentro dela cresça, semeará sofrimento e dor. Sabe, mas não pode evitar. Não porque não queira; é realmente por não conseguir. Sabe que não é de hoje e não acabará amanhã. Sabe que é amor, só que ainda não havia discernido os sinais. Tantos e tão claros, próximos demais e intocáveis, como a amizade que promete fazer durar.