Aprendi que existem duas situações na... Paul Gambler

Aprendi que existem duas situações na qual nós não devemos, em hipótese alguma, nos apaixonar.
A primeira é no metrô. Nunca se apaixone no metrô, vai por mim, ande o mais rápido que puder, evite olhar nos olhos de outra pessoa e nunca, jamais olhe pra trás quando se esbarrar em alguém. Pode acontecer como naqueles filmes onde duas pessoas se esbarram, cai aquele monte de coisa no chão, ai você vai ajudar e na hora de levantar ambos se levantam juntos e olhando fixamente nos olhos do outro, o final já sabemos. Claro, as chances disso acontecer é imensamente pequena, mas é isso que você deve temer, portanto, já sabe o que fazer quando se ver em uma ocasião assim, lembre-se: um trem é capaz de fazer alguém sair correndo tão rápido quanto os seus olhos quando a cruzaram e provavelmente a estação daquela pessoa não será a mesma que a sua.
Em outros casos, quando for abordado por alguém em busca de informação, seja simpático mas não sorria tanto ou fale mais do que lhe foi perguntado, a estação de metrô abriga os mais diversos tipos de pessoas que sonham, como você, em viver uma cena romântica em meio ao barulho das máquinas e milhares de pessoas indo e vindo, o cenário perfeito para aqueles aplausos de uma cena que você provavelmente já viu no cinema ou imaginou durante os seus momentos de maior solidão comendo pipoca e pensando no que já passou.
Enquanto estiver esperando, evite ficar olhando dentro dos primeiros vagões que passam rapidamente, olhe para o chão ou finja que esta olhando o mapa enquanto o trem não para. Se estiver descendo as escadas ainda e ver o trem parando, defina em poucos segundos as probabilidades de você conseguir chegar a tempo de entrar nele antes da porta se fechar. Portanto, não fique procurando pelo que não pode alcançar naquelas janelas, esqueça, nos minutos seguintes ela já pertencerá a próxima estação e provavelmente a outro sonhador, assim como você.
Não se apaixone em um bar, principalmente se ainda for umas dez horas da noite e as primeiras doses já tiverem lhe causado aquele peculiar efeito de te transformar em uma pessoa sem muito raciocínio e controle emocional. É bem provável que você vai se apaixonar, mas lembre-se que a noite não dura muito tempo e as chances de você ir embora sozinho, falando com todos os seus amigos sobre aquela pessoa que não parava te trocar olhares com você mas que por algum motivo você não fez nada em relação ao assunto.
Talvez em um bar, são poucos os casos de quem vai ali e passa horas pensando no mesmo que você, pensando em coisas que vão além da próxima dose ou que horas a banda começa. Nem todos buscam pelos olhares que os farão perder a fala ou congelar todas as articulações do seu corpo, saiba disso. Muitos estão ali simplesmente por estar, como sempre fazem, a busca por algo novo se limita a sentar em um lugar diferente. Caso note alguém, não deixe o álcool falar mais alto, nem cante uma uma balada olhando pra essa pessoa enquanto erra toda a letra, talvez, na pior das hipóteses ela pode achar graça e vir falar com você revelando o fato de que ela também estava cantando sem saber direito o que estava fazendo. Porém, isso pode não ter o mesmo significado, pra ela, que tem pra você, não se afobe.
Cuidado com o cigarro, algumas pessoas podem te pedir um cigarro e dar inicio a uma conversa bem longa com você resultando em um outro cigarro, entenda que isso pode não significar nada além de uma incontrolável vontade de fumar unida a preguiça ou falta de dinheiro para poder comprar. Não fique vendo coisas onde elas não existem. Alguém ali vai rir da sua piada, mas talvez por não ter nada de mais interessante pra prestar atenção naquele momento.
Em um bar, nem toda pessoa que te olha te deseja e nem todo olhar te procura, no final você é apenas um personagem, ali, parte de um cenário que se repete toda semana, mas que para alguém, possa ser o personagem principal um dia, quem sabe. Mas não conte com isso, jamais.
Por fim, entenda que caso aconteça o contrário de tudo que aqui foi dito, sem possibilidade alguma de escapar acredite, o que é necessário acontece quando você menos espera e no exato momento em que não pensamos nele.
Não podemos evitar o metrô, precisamos dele para ir aonde precisamos e temos no bar a nossa diversão de todas as noites. O que ambos tem em comum? talvez as mais altas possibilidades de conter uma felicidade . mesmo que passageira dentro de um vagão ou a maior das experiências no distorcido reflexo de um copo vazio que a noite toda, por estar cheio, te impediu de ver o que tinha alem do que ele escondia...