Um dia incolor Apesar de ser o título... Gaby Vieira
Um dia incolor
Apesar de ser o título de um dos meus livros preferidos, a expressão "um dia", em determinado e similar contexto, tem a incrível capacidade de me tirar do sério. Não é a frequência com que a usam, nem a simplicidade coerente aos monossilábicos de plantão, é a falta da resposta que eu quero ouvir, ou mesmo da que eu não quero que seja pronunciada.
É ainda pior do que a corriqueira "quando você crescer", uma vez que com essa pelo menos se conta o passar dos anos até a fase adulta, mas "um dia", por favor! É vaga, é decepcionante, é desencorajadora. Pode ser que seja essa mesmo a intenção, mas não me culpe por não compreendê-la, ou ainda por abafar essa compreensão em meio a outros sentimentos prevalecentes. E não sendo o afastamento o propósito, por mais poética que possa parecer a quem a profere, sejamos sinceros, quem a ouve "um dia", que provavelmente chegará bem antes do teu "um dia", cansa! Mesmo sem ter um prazo definido, espera que seja condizente aos seus anseios. Mas não é, parece nunca ser. Tem a capacidade de despertar a minha paranoia adormecida e na falta de coragem, culpa-se a presença do artigo indefinido masculino pela inquietude provocada por essas duas palavras, afinal, se eu tivesse ouvido " o dia", jamais teria cansado.
"Um dia" sempre me parecerá um desperdício de tempo, um comodismo que leva junto uma coletânea de sensações não vividas.