CARTA DE DESPEDIDA AO SENHOR ESTRANHO:... Laila Monteiro
CARTA DE DESPEDIDA AO SENHOR ESTRANHO:
18 de Abril de 2011, Brasil.
Estranho,
“Sei que é uma decisão tardia, diante os fatos ocorridos, mas tudo tem seu tempo pra acontecer, se isso só aconteceu agora, deve-se ter lá seus motivos. Vá entender!
Enfim, resolvi não te querer mais.
Mesmo que meu coração ainda reclame sua ausência.
Resolvi mudar o costume de ter você em tudo. De ter você nos cantos da casa, de ouvir você abrindo a porta, de ouvir o barulho do seu carro, de sentir sua respiração... Tudo isso de maneira imaginária, pois você não está mais aqui. Fato. E eu preciso me acostumar com isso.
Resolvi pensar sozinha, imaginar meu futuro sem você. Você não vai voltar.
Resolvi guardar as recordações numa caixa grande, de aparência simples, para que ali ficassem enterrados os nossos momentos bons, ou melhor, os momentos que tanto apreciei. Momentos sublimes e que, na realidade, eram tão vazios... Guardei dentro dela todas aquelas pequenas coisas que me fazem ter você na lembrança, tudo que me faça sentir a sua energia: suas camisas, bermuda, roupa intima, escova de dente, fotos, cartas escritas, bilhetes, vidros de perfumes, aliança, coleção de CDs...
Criei uma caixa imaginária dentro de mim pra guardar tudo que vivemos: as palavras ditas, as noites amor, as conversas por MSN, as conversas por telefone até amanhecer o dia, as mensagens no celular, o som do seu sorriso, a lembrança dos seus olhos, da sua respiração, o beijo que você dava na minha mão ao dirigir, a sua cara ao ler a mensagem que escrevi no espelho, as reticências, o “quem sabe um dia!”, o “inclusive”, as músicas, as nossas vídeo chamadas, as suas mãos calejadas, a ponta da orelha, o seu silêncio, a paz que encontrávamos juntos...
Guardei nela também a saudade que sinto e que você nunca sentiu.
Guardei os planos, os projetos, as incansáveis noites em claro esperando por noticias suas, a minha insistência em fazer com que você acreditasse que eu seria a pessoa certa pra você, as minhas lágrimas de apelo, o meu sofrimento por vezes tão grande que me causava dores físicas, a minha insegurança, minha preocupação e o meu medo de perder você.
Guardei a esperança, o desejo, a vontade, o amor por você, a espera, a paciência, a sinceridade, a compreensão, o meu respeito e admiração por te achar tão perfeito.
Resolvi mudar o perfume, meus produtos de banho, comprei lençóis novos, toalhas novas. Não quero nada que seja intimo misturado com a sua lembrança.
Olha, vou comprar uma cama nova! Não agüento mais dormir no sofá, pois não consigo olhar pra cama e pensar o quanto você foi sórdido ali! Acho que foi nela que você mais mentiu... principalmente ao fingir fazer amor. Acho que você desconhece o real significado da frase.
Penso apenas que não suportaria mais suas mãos sobre o meu corpo, apesar do desejo ainda ser forte, eu não agüentaria tanta humilhação. Não agüentaria olhar pra você e pensar que tudo é fingimento.
Eu que sempre me entreguei verdadeiramente. Eu que sempre acreditei na nossa cumplicidade. Acreditei em você. Confiei. Agora me encontro perdida em meio a sentimentos tão frios e procurando as palavras certas para descrevê-los.
Tenho raiva do meu corpo por saber que nele você despertou sensações maravilhosas que ninguém nunca conseguiu fazer o mesmo.
Tenho raiva de mim por não conseguir me permitir que outro o toque, pois ainda sinto como se ele fosse seu.
Repito pra mim mesma, cheguei a escrever as frases ditas por você (colei em espelhos, guarda-roupa, geladeira... eu precisava que delas!), pois foram elas que me fizeram enxergar que eu não sou o bastante... não sou o bastante pra você. Não por ser inferior. Não. Mas porque pra você, você se basta. Você é tão você, que os outros não são nada. Você brinca com os sentimentos, com as pessoas, você muda a vida, a rotina, você tem o dom de transformar o céu em inferno! É triste. Mas é a realidade. Você tem um dom de cativar e de destruir tudo em segundos, com a mesma facilidade.
E eu não quero ao meu lado alguém tão singular. E eu preciso me libertar desse sentimento doentio que é amar você, porque definitivamente, você não é o quem eu amo. A sua realidade é diferente da pessoa que amei. Eu imaginei, ou vivi, não sei ao certo, algo inexistente.
Você tantas vezes me disse que me amava incondicionalmente... o que é ser incondicional pra você?
Acho que você nunca vai saber o quanto eu amei você e a sua real importância para mim.
Senhor Estranho, encontre-se. Porque agindo assim você vai fazer com que muitas pessoas boas e de sentimentos puros, se percam. E definitivamente, ninguém merece ser usada assim.
Boa sorte em seu caminho, porque agora eu vou refazer o meu e concertar os estragos que você o fez.
Seja feliz.”
...
(são três pontos finais, só pra ter certeza que acabou.)”