Era uma vez, tempos atrás, eu. Poderia... Giulia Staar

Era uma vez, tempos atrás, eu. Poderia começar dizendo que era inverno, e que mesmo assim, minha vida nunca esteve tão quente. Meus cabelos tinham uma mania irritante de cair em cima do meu rosto, e eu tinha uma mania mais irritante ainda de reclamar sobre eles e mesmo assim recusar até o fim a cortar. Sim, eu era esse tipo de pessoa, o tipo que amava problema. Então não foi nenhuma surpresa pro meu subconsciente quando eu comecei a cada vez mais permanecer ao lado dele. Eu negava até a morte qualquer tipo de envolvimento com uma pessoa que nem ao menos ligava para algo. Eu negava que ele me intrigava, e que passava horas tentando entender suas palavras, que ele jogava em forma de enigmas para mim. E estava ficando tarde, estava escurecendo, e eu não conseguia olhar mais adiante. Ele me dizia coisas que ninguém nunca teve coragem de dizer, e muitas vezes me fazia me sentir como se eu não prestasse para nada. Mas segundos depois lá estava ele me olhando como se eu fosse tudo. O que mais me surpreendia é que, eu sempre quis alguém que ouvisse tudo além do que eu sempre dizia. E ele ouvia o que eu nunca disse… O que minha alma não tinha coragem de dizer. Ele me ouvia, e eu nem precisava gritar… Com o passar dos tempos comecei a achar que ele tinha entendido minha fissura com o problemas. Porque ele vinha se tornando cada vez mais um problema para minha sanidade mental. “O que eu estou fazendo?” – Eu sussurrava, em quase todas as vezes que estávamos juntos. “O que eu estou fazendo?”– Eu gritava, em todas as vezes que estávamos separados. Eu não entendia o que estava acontecendo, eu não sabia nada sobre o amor, ou sobre ele. E eu lembro de que alguém naquela época me disse: “Arrisque-se, você não tem nada mesmo a perder…” E foi aí. Eu me arrisquei, e foi logo depois que eu perdi. Perdi, ele. E me perdi, tentando encontra-lo. Era uma vez, tempos atrás, eu. Tinha umas obsessões por problemas, um sorriso estampado na cara, um cabelo que sempre insistia em me desafiar e por mais incrível que pareça era inverno, e que mesmo assim, minha vida nunca esteve tão quente.