Tudo depende da minha Vontade E se eu... Alexandre Morais

Tudo depende da minha Vontade

E se eu quiser morrer agora? É, agora mesmo.
Nem um minuto antes e nem depois.
Tem que ser agora, nesse exato momento! Anda, morre!
Não morro, não consigo. Um imbecil.
Fato, falho até para morrer.
Quanta incompetência na vida,
nem a morte me quer. Voltemos ao real.

E se eu quiser te amar mesmo você namorando outro?
(um pequeno detalhe que expressa só noventa por cento)
E se eu quiser comemorar o natal em Julho?
E se eu quiser te beijar agora?
gritar que te amo! E se der crises, histerias
e eu fizer pirraça e sentar no chão,
não querer ir embora enquanto você não me notar.
Ai eu vou querer morrer, com ou sem você.

E se quando chegar o inverno, as flores murcharem
eu ainda estiver sozinho, você vai largar ele?
me deixar dormir só?
Você vai! Sabe por quê? Porque eu nunca vou falar.
A fala se restringe às palavras. Quero que note,
note nos momentos imprevisíveis, quando menos esperar,
eu vou acender a pureza. Sente-se no meu lado,
respire meu desespero e nervosismo. O mau jeito de olhar,
sem fixação ocular, impulsividade pelo beijo proibido, diferente.

Você vai perceber, um dia quem sabe.
Posso estar longe, muito longe, talvez até lá eu consegui morrer.
(Nunca se sabe)
Despertou tentação infernal, na paz que dedicava em manter.
Até hoje tudo foi intato, só no faro. Fique comigo para sempre!
Case-se, seja a noiva mais linda do mundo.

Mas acalme-se e não comece a chorar,
se não eu vou também, e fico todo vermelho.
Guarde as lágrimas para quando chover de manhãzinha
e eu estiver fazendo café para nós dois.
Vai lembrar-se da sua mãe, do seu pai, da infância,
dos filhos que ainda não temos.

Vamos tirar muitas fotos e fazer amizade com o garçom no bar,
voltaremos bêbados de lá e apoiados um no outro,
sem direção concreta.
Escolher livros na vitrine da livraria que
fica ao lado da loja de trufas (lhe comprei todas)
Qual você mais gosta?
Vou declamar versos franceses e gesticular como
um homem apaixonado.

E se eu começar a chorar depois da briga
vendo os vídeos de nós dois cozinhando aos domingos,
ou daquele de nós brincando com o nosso filhote de labrador
que ganhamos de presente de casamento
debaixo das cobertas (você sorria tão lidamente para a câmera)
Você volta? Diz que sim. Estamos iniciando nossa família.

Tudo isso sem dizer uma única palavra.

E se eu quiser te recitar uma poesia nova, você ouve?