Patrícia Mendes Quantos segredos há em... Alexandre Morais

Patrícia Mendes

Quantos segredos
há em uma fotografia?
quanta paz
há em desenhos?
quanta luz há um formato?

Eu só olhei e mais nada,
as expressões fortes e sérias
de uma moça
que eu vi sem querer
em uma foto-novela

Amei-a da terra do nada
por onde brotou
um cálice de flor
da gaveta empoeirada
na qual era guardada
uma imagem emoldurada,
no porta-retratos de cor.

Lembrei-me das moedas cunhadas
na qual vinham o retrato
de D. Pedro I
e a imperatriz desejou-o
o belo rosto rasteiro.

Vou pedi-lá em casamento
ainda hoje irei
graças a minha curiosidade
adiantar minhas cartas
acelerar as brigas
reconciliar os beijos
que nunca dei.

Dirigir-me-ei aos pais, pedir-lhes à mão,
disser-lhes sobre a foto do meu pecado
colorida, preta e branca
do diamante escasso
que encarava a fina lente
e penetrava o rigor olhar
no limbo aro

Estás a duzentos, não!
trezentos e oitenta mil quilômetros
de enfática distância
do meu apartamento de esquina
ombreando com minha estima
alerta e desespera a ganância

no rapaz esquálido,
que anos luz
a viu
estacada,
defronte
de perfil

sua silhueta reta
os cabelos soltos
mornos
nascidos de uma nova era
da carne no osso.

Como pode o sol permear
os arredores de casa
da rua, sem trazê-la?
e o meu castigo já estava imposto
a punição de não conhecê-la.

Em um quadro marcado
foram pintados
os olhos simétricos
a rebuscada boca
para o meu aval
literário, poético.