A fixação de voar atormentava-lhe o... Walmir Fabiano
A fixação de voar atormentava-lhe o pensamento. Em algumas noites acordava em meio à madrugada toda assustada, porque, ao menos nos seus sonhos, o desejo maior virara realidade, porém, não conseguia descrevê-lo e ao longo do dia esforçava-se para ver ao menos parte daquele sonho, mas nada havia sido registrado em seu cérebro.
Certo dia, Ruth olhou o corredor extenso que ligava a sala à cozinha e sabendo que estava só em casa, deu uma acelerada anormal em sua corrida, imaginando que alçaria vôo. Na primeira tentativa não conseguiu brecar e chocou-se com força contra a parede.
Apesar das dores, pôs-se novamente a correr e próximo ao final do percurso jogava-se à frente, como fazem os aviões ao decolarem. Por sua felicidade, após várias tentativas e com muitos hematomas, sentiu que seus pés ficaram por algum período suspensos no ar. (...).
No outro dia, após o almoço e aquele cochilo rotineiro, pôs-se de novo a correr, pela casa afora, principalmente pelos lugares mais amplos. Quando ganhava certa velocidade, jogava-se no ar e caia cada tombo horrível. Mas não desanimava nunca. Ao final do treinamento começou a se perguntar por que é que não iniciava o treino a partir do estágio em que sentia que ficava por algum momento suspensa no ar. Porque tinha que recomeçar do zero. O que estaria faltando para dar o salto desejado, nos seus treinos. Com essa pergunta foi dormir a noite chuvosa. Os trovões e os relâmpagos noticiavam que a tempestade era assustadora, mas Ruth tinha algo muito maior em mente e tais medos não torturavam seu pensar.