“O sol bateu na janela da sala e... Gabriela Luzia
“O sol bateu na janela da sala e iluminou o pequeno apartamento onde vivia com seu pequeno cão, Harry. O outro lado do sofá permanecia quente desde a noite anterior. Olhou para as próprias mãos, ainda podia vê-las desesperadas pelo calor dele, descabelando-o e empurrando-o contra si mesma, sentiu, por um breve instante, a frieza dele percorrendo sua espinha. Talvez não fosse assim tão tarde.
Levantou, passou um café. As costas doíam, os pés formigavam e as mãos tremiam de frio. Vestia uma blusa de pijama e a roupa íntima. O frio congelava-lhe os ossos, mas pouco se importava. A única sensação incômoda daquela manhã eram as mãos vazias e trêmulas e a falta de companhia.
“A pior coisa entre nós é essa sua insuportável mania de ir embora de manhã.”
Largou a xícara na pia. Se dirigiu então, cabisbaixa, ao banheiro. Aquele dia não teria fim.”
“Sabia que mentia para si mesmo ao dizer que ela precisava dele. Na verdade era o próprio que não era capaz de sobreviver mais de um dia sem ela. Se sentia mal por isso, Livia era jovem. Deveria ter amigos, sair, conhecer novos rapazes… Ódio. Era o sentimento que se apoderava dele ao imaginar sua pequena rodeada de outros jovens, deixando-se levar pelas tentações da juventude atual. Livia, jogando porcarias para dentro do próprio corpo indefeso… Não seria capaz de perdoar qualquer ser pensante que fizesse com que ela chegasse perto de qualquer substância ilícita. Era capaz de matar.
Não queria pensar nisso. Fechou os olhos e mentalizou a imagem que tanto desejava ver. Parou. Os pensamentos que floresceram no carro ainda lhe perturbavam. Respirou. Encarava a porta. Sorriu para o olho mágico, que parecia estranhamente azul. Estendeu os braços. A porta se abriu.”