Não que seja a primeira costa que me... Gabriela Luzia
Não que seja a primeira costa que me marca - pelo contrário, já residi na beira de uma belíssima, porém mais nova costa por quase três anos de calor - entretanto algumas peculiaridades me causam estranheza, posto que migro de um oásis de três décadas pra um anfitrião de tsunamis de quase meio século.
Óbvio que cansei de me cortar com as pedras pontiagudas empurradas pelo mar. Mas, ainda assim, me encanta imaginar todas as histórias e personagens que já perambularam pela velha costa - até as que figuram no meu próprio enredo, simultaneamente e não mais ou menos perto de serem protagonistas que eu. Veja bem, não me importo em dividir meu pequeno território na costa com outras viajantes, porém me perturba quando penso na possibilidade de ter que coexistir com outra construção. Sonho eu em ser o único porto em meio às diversas ruínas dessa costa, por mais que as águas do mar, de fato, nunca sejam as mesmas; o mar é transitório, não tem raiz, não para nem seria possível. Ainda assim, nas madrugadas em que tropeço acompanhada de uma garrafa de vidro pelas bandas da costa, eu alimento a utopia de que esse meu mar de ressaca, após inundar outros portos e cruzar todos os oceanos e praias recém-inauguradas, volte a bater a espuma no meu porto, que continua de pé.