SONHOS INTERROMPIDOS O que dizer quando... Rodrigo Ludwig

SONHOS INTERROMPIDOS

O que dizer quando a vontade de falar é imensa, entretanto as palavras insistem em não sair? Aos que afirmam não aguentar mais ler histórias sobre a tragédia da cidade de Santa Maria, pergunto: qual a receita secreta para simplesmente trocar de assunto, virar a página e ir em frente? Qual a fórmula para ser indiferente a tantas histórias comoventes, onde centenas de jovens perderam a vida precocemente? Qual o segredo para adotar uma postura desinteressada frente ao acontecimento que entristeceu todo o nosso amado Rio Grande do Sul e o mundo?

Expliquem-me, pois eu não tenho essas respostas. É impossível parar e simplesmente mudar de assunto, fechar os olhos e fingir que está tudo bem. Não está tudo bem. Não há como não pensar nas vidas de todos aqueles jovens que foram prematuramente interrompidas. Jovens como eu e, provavelmente, como você que lê esta crônica. Como desconsiderar todos os sonhos que foram ceifados abruptamente? Ser indiferente aos relatos de quem acabou de perder o amigo, o amor de sua vida ou o seu filho? Não dá.

A dor de todas essas pessoas ecoa em mim também. E falo isso porque não canso de ler os relatos dos heróis que salvaram vidas e, principalmente, daqueles que deram a sua própria na tentativa de salvar alguém. Não canso de ler as inúmeras demonstrações de solidariedade, mensagens de apoio que certamente fazem a diferença neste momento de dor. Em especial aos manifestos dos meus conterrâneos do Rio Grande do Sul, todas essas declarações evidenciam o quão solidário é esse povo.

Só Deus sabe o orgulho que tenho de ter nascido nesta terra. Tudo o que aconteceu em Santa Maria nos suscita indignação, raiva, mas, sobretudo... tristeza! Jovens não deveriam morrer. Pais não deveriam passar pelo sofrimento de ter que enterrar seus filhos. É desumano, é cruel, é doloroso, é contrariar a lei natural da vida.

Espero sinceramente que o incêndio na Boate Kiss não seja apenas um dos tópicos mais comentados na internet por alguns dias e depois caia no ostracismo. Que este terrível acontecimento que tirou a vida de tantos jovens gaúchos faça com que tenhamos uma fiscalização rígida por parte do Poder Público em casas noturnas para que eventos dessa ordem não voltem a acontecer. Que os proprietários de baladas e bares nos propiciem um lugar em que possamos nos divertir em segurança. E que momentos de celebração não se tornem novamente motivo de tristeza e desolação.
E quanto aos culpados? Que isto fique por conta de quem cabe apurar. O que cabe a todos nós é ajudar. Doe sangue. Procure se informar de como você pode fazer a sua parte e faça. Expresso minhas condolências às famílias e amigos de todas as vítimas. Que Deus lhes ilumine e console pela imensa dor que estão sentindo.

Escrevi esta crônica na esperança de conseguir exprimir por meio de palavras tudo o que está apertado dentro de mim e não consigo dizer como gostaria. Talvez o escritor gaúcho Fabrício Carpinejar esteja certo, as palavras perderam o sentido.