"Deve ser lindo ter um segundo... Carol Gray
"Deve ser lindo ter um segundo coração batendo dentro de você. Duas vezes mais amor, duas vezes mais felicidade, duas vezes mais fome. Deve ser lindo ser mãe. Pegar nas mãozinhas, vê-las se aproximando dos seus dedos, começando a caber entre eles... Ouvir o primeiro choro, ver o primeiro sorriso, as primeiras palavras, e até o primeiro gorfo, a primeira fraldinha suja... Deve ser lindo. Sério mesmo. Deve ser muito especial. E eu fico me perguntando se algum dia vou ter essa sensação." - ela disse pra si mesma. Pensou consigo mesma. Então deitou. Acariciou a barriga. Cantou canções de ninar. Contou histórias sobre reinos distantes e pessoas boas. Acariciou a própria barriga mais uma vez. Fez cócegas. Fez dengo. Falou coisas bonitinhas. Imaginou passinhos na sala, no quarto, na cozinha, pela casa inteira. Ela imaginou o primeiro "Olá", o primeiro colo, a primeira amamentação. Contou cada dedo que tinha para representar os beijos para serem dados de segundo a segundo. Imaginou o primeiro sapatinho. Imaginou os passinhos. Imaginou o primeiro sorriso, as primeiras palavras. Imaginou como ela seria feliz ao ter um pedaço dela junto com o pedaço do homem que ela mais ama naquele útero. Imaginou o homem ao lado dela, cada segundo. Imaginou-se chamando o de "papai", rindo que só, enquanto ele tenta cuidar do bebê. Imaginou quantas tardes, juntos, eles passariam cuidando do bebê. Quantas coisas descobririam com ele, e ensinariam à ele. Imaginou as brincadeiras, os mimos, os dengos. Ela ficou horas e horas imaginando, cantando, sorrindo, brincando com aquela barriga... Parecia que ela estava vendo-a pela primeira vez. Foi encantos e encantos... Contos de fada. Sorriu, brincou, dormiu. E quando amanheceu, a brincadeira foi outra: ela tinha cantado para si mesma, acariciado a si mesma, rido consigo mesma, brincou consigo mesma, dormiu só... A menstruação havia chegado.