Estou cega. Vejo a escuridão. Sou um... Amanda Lemos
Estou cega.
Vejo a escuridão.
Sou um apêndice.
Posso ser substituída a qualquer momento.
Estou só em meio à multidão.
Nesses dias, andei lendo uma novela que inclusive recomendo a todos que são dotados de um intimismo e percepção psicossocial aguçada.
A hora da estrela, de Clarice Lispector.
Simples, porém de uma dimensão estarrecedora.
Até que ponto ao estar, não estamos ?
Até que ponto deixamos para viver, renascer, apenas quando nos deparamos
com a morte ?
O ser humano evoluiu tanto , ampliou conhecimentos e atingiu um ego de valor desproporcional para não reconhecer o óbvio: Estamos fadados a solidão.
Não percebemos a presença e importância do outro ao nosso lado porque estamos cegos por um individualismo e falta de tempo que não nos permite compreender a dor do próximo, acalentar uma alma, sermos altruístas, austeros.
Não somos.
Escrevemos auto- ajudas a milhares por pura indagação para praticarmos miséria em uma sociedade cada vez mais hipócrita e só.
Sim, só.
Abandonada.
Creio até que um dos maiores problemas da humanidade daqui uns anos, e não irá demorar muito, será a solidão e a profissão mais ascendente será aquela voltada para a psicologia.
Pagamos e pagaremos cada vez mais à alguém para nos ouvir, simplesmente isto: ouvir. Pois, dentro de nossa própria casa, ou algo que se possa chamar de lar (?), não há quem tenha tempo ou ânimo para isso.
No momento em que escrevo, ato confesso, acaba de entrar em minha sala de aula dois jovens acadêmicos do curso de psicologia para avisar aos alunos da instalação de uma espécie de “plantão psicológico” em minha escola.
Falo a verdade , não apenas num ato retórico de ceder comprovação ao que escrevo.
Coincidência, não?
Será?
Deixemos.
Estamos vivendo um “ locus horrendus” ?
Não sei o bem, todavia, vivenciamos um dilema humano: Reconhecer quem está em pé ao nosso lado na fila do supermercado, sensibilizarmos com a dor do outro marginalizado que padece de fome nas ruas , compreender o próximo que assim como eu é dotado de capacidade e inteligência.
Não é tarefa fácil, embora pareça.
Estamos acostumados ao ego e ao “eu” exacerbado que acabamos por esquecer que sim, ACORDE, vivemos em sociedade.
Repito: vivemos em sociedade e não apenas existimos em sociedade.
Devemos viver como seres sociais que sabem relacionar de forma recíproca e humana.
Ando convencendo-me ainda que a questão de “ser” humano perdeu, ou vem perdendo, a sua essência que é a humanização.
Estamos cada vez mais mecanizados , como uma esteira de produção, e agimos presos a rotina.
Como podemos observar na filosofia fetichista, o ser é “coisificado” e a coisa é “humanizada”.
Pobres mortais.
Meros mortais.
Reconheço que minhas palavras possam soar ácidas e um tanto esdrúxulas e até mesmo leigas perante o tema que abordo. Porém, como bem sabem, eu apenas transbordo.
Despejo através de um emaranhado de palavras o que minha mente propõe.
Ah, e vejam só, ainda é dia , chuvoso, eu sei, mais ainda o é !
Portanto, beije sua mãe e abrace quem está ao seu lado neste momento, ou alguém mais próximo.
Por que não ?
Ouvi dizer que não dói e que carinho faz um bem danado e expira tudo de negativo.
E meus parabéns, feito isso, você acabou por viver e não penas existir.
....
O tempo é voraz.
Escorre pelas mãos, meu bem.
Ás vezes, a “ficha” só cai quando as mesas já estão vazias.