Silencioso Há um sentimento dentro de... Alexandre Morais
Silencioso
Há um sentimento dentro de mim, que o sinto no silêncio.
Eu sinto nojo de pessoas que forçam uma nova beleza, que não seja a própria delas,
e para isso usam produtos para esconder algo já belo.
Eu sinto nojo de pessoas que são mais emissão do que o próprio íntimo.
Eu sinto nojo de pessoas que se esquecem de nós no dia seguinte.
De pessoas sem consciência, e honestidade.
Eu sinto nojo de pessoas sem alma.
Nojo de pessoas com maldade nos olhos.
Eu sinto nojo de pessoas que trocam os olhares, os toques e as presenças, por um simples celular à mesa do boteco.
Que beijam com a língua à mostra.
Que se matam para transmitir uma boa aparência,
não falam bobagens,
não andam de bicicleta para sentir o vento no rosto,
procuram ser o tempo todo equilibradas e não extravasam debaixo da chuva,
e que por dentro são todas cheias de complexos e perturbador vazio.
Eu sinto nojo de pessoas que não têm paciência para poesia
e querem ter mais religião e imitar santo, do que ter amor no coração.
Eu sinto nojo daquelas pessoas que só cobram e pouco faz,
e aquelas que te abandonam em plena ilusão.
(às vezes essa ilusão salvaria uma vida)
Eu sinto nojo de pessoas que tentam falar bonito, escrever certo, que se preocupam mais com a estética do que com o verdadeiro.
Pessoas com sorrisos largos, cabelos arrumados, as roupas passadas,
que procuram aprender vários idiomas, ganhar muito dinheiro, ter carros, viver uma vida programada e sem turbulências,
e que não têm uma lágrima sequer nos olhos para chorar por outro.
Eu sinto tremendo nojo dessas pessoas.
Pessoas, ah! Essas pessoas.
Que te chamam de imbecil só por tentar fazê-las sorrir um pouco mais.
Acham sua presença um estorvo e depois partem para lados crivados de mentira e ignorância.
Às vezes, me dá uma imensa vontade de quebrar o relógio, acabar com as horas,
viver igual bicho, sem regra nenhuma.
Metido a vadiar pelas ruas, sem as divisões dos dias e dos momentos.
Sem rumo algum, apenas absorvendo o que há de mais natural nesse mundo.
Quem sabe assim, eu consiga parar de sentir nojo de algumas pessoas.
Porém, creio eu, na última gota de esperança, que isso de nada adiantaria.
Então, enquanto isso, eu me contento com garrafas de whisky e muita poesia.