O REI DOS INVENTORES Dos inventores o... Joel Ribeiro do Prado

O REI DOS INVENTORES

Dos inventores o rei,
Deus, Pai onipotente,
Não tem, de acordo co'a lei,
Vigendo qualquer patente.

Ao projetar o Adão,
Que era total novidade,
Patenteou a invenção
E garantiu prioridade.

Eva também foi, então,
Feita por necessidade,
Sendo, após o Adão,
Modelo de utilidade (um aperfeiçoamento)

Mas não supunha o bom Deus
Que, sem direitos passados,
Aqueles inventos seus
Fossem por outros copiados.

Tão logo soube do fato,
O Mestre pôs-se em ação
E, agindo do modo exato,
Mandou notificação.

Contrafatores, possessos,
Replicaram, malcriados:
“De fabrico os processos
Foram por nós inovados!

Conseguiu-se reunir
O útil ao que deleita
E já não é pra dormir
Que cá na Terra se deita...

Produz-se diuturnamente,
Há empenho e alegria!
Com barro, presentemente,
Bebê algum se faria...

Merecemos o respeito
De quantos deuses houver,
Pois o mundo não foi feito
Pra um homem e uma mulher.”

Mas, com tal falta de tato,
A coisa se complicou
E Deus, que é forte de fato,
À morte nos condenou.

Tudo o que houve em seguida
Reflete em nós inda agora:
Os outros nos põem na vida,
Mas Ele nos leva embora...

Isto outra coisa não é
Senão busca e apreensão,
Por não se ter posto fé
Na tal notificação.

Mas, se vale uma patente
Por período limitado,
As de Deus, seguramente,
Já têm o prazo expirado

No tempo de duração,
A lei é bem definida:
Não cabe prorrogação
Ao monopólio da vida.

Mas, franqueada a produção,
Há um problema pela frente:
Sem a busca e apreensão,
Onde se irá pôr mais gente?

É melhor, pois, por agora,
Buscar outra ocupação:
Fazer à noite mais hora
Diante da televisão...


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