A ESPIRALADA EVOLUÇÃO DA VIDA Estando... Joel Ribeiro do Prado

A ESPIRALADA EVOLUÇÃO DA VIDA

Estando certa vez num restaurante,
Veio um senhor sentar-se à mesma mesa,
Iniciando-se, naquele instante,
Um diálogo de ímpar natureza

Não me recordo bem por que razão,
Se trouxe para tema a Humanidade
Ganhando a prosa forma e dimensão
Próprias a algo de tal densidade.

Ouvindo-me atento, curioso,
Aquele companheiro inesperado
Levou-me a avançar, pretensioso,
Professoral até, no enunciado:

“Eu vejo que seguimos circulantes
Por cônica espiral, em ascensão,
E tudo se repete como antes
Mas numa afunilante projeção

Desejos, aflições, crenças, receios...
Tudo isto carregamos na subida,
Que ora são fardos, ora são esteios,
Segundo as conjunturas numa vida

O Criador é o eixo da espiral
A que vão ter os mais evoluídos
Deixando para trás, noutro final,
Os réprobos, os vis, os decaídos.

De sorte que a própria experiência
De cada qual lhe dá a dimensão
Na base nos impele a inocência
Acima, àlguns refreia a devoção”

Ao me calar, ouço de quem me ouvia:
“Sua tese é de São Tomás de Aquino.
Na USP, leciono teologia,
E lá filosofia ainda ensino.

São temas por que tenho grande apreço!
E não só eu, também minha mulher;
Anote, por favor, meu endereço
E apareça lá quando quiser”

Mesmo alcançando o gesto na grandeza
Da importância ali pra mim contida,
Achei-me aquém de tal delicadeza
E nunca fui à casa oferecida
Foi mais um erro que somei na vida...

Por não submeter meu postulado
Ao crivo de um perito em teologia
Fiz concessões demais a alguém amado
Que professava outra teoria

Faltou-me perceber que o pretendido
Fenece ao aninhar-se na ilusão
Já que esta, se preserva o sentido,
Inverte, sempre e sempre, a direção.


Perdem o rumo e afastam-se do centro
Os que enleiam fé com fanatismo;
Procuram fora aquilo que está dentro;
Buscando o céu, despencam num abismo


Na espiralada evolução da vida,
Tal como a pude imaginar um dia
Constato que há, mas há mais invertida,
A forma cônica em que se irradia

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