O que significa amar a Deus? Alguns o... Pr. John Piper

O que significa amar a Deus? Alguns o reduzem a fazer coisas em obediência a Deus, porque João 14.15 afirma: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”. Mas isso não é o que o texto ensina. Ele diz que a obediência
resultará do amor. Não diz que a obediência é o amor. Nem 1 João 5.3 contradiz este ensino, quando declara: “Este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos”, porque com esta primeira afirmação devemos ler a frase seguinte: “Ora, os seus mandamentos não são penosos”.
Em outras palavras, o amor não é apenas fazer, e sim fazer com um tipo de coração que não vê isso como algo “penoso”. Outros reduzem o amor a atos de força de vontade e decisão. A razão geralmente dada para essa redução é que o amor é ordenado na Bíblia, e as pessoas dizem que, se o amor é ordenado, você tem de ser capaz de amar, não importando o que você sinta. Em outras
palavras, visto que o amor é ordenado (Mt 22.37), ele é uma decisão, e não algo mais profundo ou que esteja fora de nosso controle imediato, como uma afeição ou emoção.
Mas o problema nesta maneira de pensar é que ela contradiz
a Bíblia. Várias coisas são ordenadas na Bíblia que não são apenas decisões e estão realmente fora de nosso controle imediato. Por exemplo, ter alegria é uma ordem Sl 100.2; Fp 4.4), assim como ter esperança (Sl 42.5), temor (Lc 12.5), zelo (Rm 12.11), tristeza (Tg 4.9), desejo (1 Pe 2.2), compaixão (Ef 4.32), quebrantamento
e contrição (Sl 51.17), amor fraternal (Rm 12.10) e gratidão (Cl3.15). Não é verdade que, se alguma coisa é ordenada, ela tem de ser um simples ato da vontade e que está em nosso poder fazer tal coisa. Sem dúvida, isto é ofensivo às pessoas que negam os efeitos mortais
do pecado original. Mas, para aqueles que crêem que o pecado original trouxe uma horrível dureza de coração, morte espiritual e cegueira moral à raça humana, não é surpreendente que os mandamentos de Deus são dirigidos a pessoas que simplesmente não podem cumpri-los. Nossa vontade está moral e espiritualmente corrompida. No
entanto, somos responsáveis pelo cumprimento dos mandamentos de Deus. A corrupção moral que nos incapacita não nos isenta da responsabilidade de fazer o que é bom e correto. “Chamou Moisés a todo o Israel e disse-lhe: Tendes visto tudo quanto o SENHOR fez na terra do Egito... porém o SENHOR não vos deu coração para entender,
nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje” (Dt 29.2, 4). Vendo, não vedes. Contudo, apesar desta cegueira e surdez moral, Israel era responsável para guardar “as palavras desta aliança” e cumpri-las (v. 9). Então, o que é o amor a Deus, se não é apenas ação ou mera força de vontade? Eis a maneira como Agostinho o definiu há mais de mil e seiscentos anos:
"Eu chamo [o amor a Deus] de movimento da alma
em direção ao gozo de Deus, por amor a Ele mesmo, e o
gozo de si mesmo e do próximo por amor a Deus”.