Algo não tão simples... É... Michelle Wundervald

Algo não tão simples...


É relativamente estranho pensar em como pode algo que você quer tanto,repentinamente te fazer tão mal?
Estou falando da minha cirurgia, e de outras coisas que vem rondando a minha vida e beirando o precipício sem fim da minha mente.
Sempre quis ser como as outras, ditas normais, até descobrir e aceitar que isso pra mim seria um eterno martírio, jamais conseguiria valorizar o que para tantas tem tanto valor, como não estudar filosofia? Como não gostar de musica? Como viver sem fotografia? Qual o problema em ir comprar pão de pantufa? E daí que meus amigos não se enquadram nos padrões da sociedade? (ao menos se enquadram muito bem nos meus padrões sentimentais)por que não trabalhar no pesado? Que que tem de mais deixar a unha curta sem esmalte ou raspar a cabeça? Ou mulher só é mulher se tiver cabelos compridos e unhas sempre bem feitas?
Mais não é bem disso que estou querendo falar.
Tenho gasto muito tempo pensando em como as pessoas eram e como estão , isso com relação a mim.
Com 120 kg eu confesso me sentia muito pesada mas também mais segura, demorava muito mais para fazer amigos, paqueras eram poucas ou nenhuma isso sem duvidas, mais o mais incrível é que se paro para pensar fico triste, por que vejo que com os meus 120kg os relacionamentos pareciam muito mais verdadeiros, ex: a pessoa me via me achava gigante demorava um tempo pra se aproximar e descobria que atrás daquele monte de banha tinha uma eu,ai se aproximava e como cava a descobrir que meu conteúdo era bem maior que meu tamanho e então formava-se uma nova “amizade” que com o passar do tempo evoluiria ou não, se evoluísse eu usaria o “amigo” sem as aspas se não evoluísse se tornava apenas mais um “amigo” mesmo.
Ou ainda assim falando de garotos, primeiro olhar, gorda ,mal vestida, desajeitada, quieta, cabelos curtos, alguém que com certeza não serviria nem de 5ª opção, e eu to falando a real, ai rolava a tal da aproximação, e então a descoberta do meu eu atrás do primeiro mau impacto visual, ai uma “amizade” que acabava evoluindo para uma grande admiração e logo uma cantada ainda que escondida pra que ninguém soubesse que a estranha poderia sim ser admirada pelo simples fato de ter cérebro.
Era muito mais difícil com toda a certeza. Eu tinha que esperar mais pra mostrar o que sempre esteve ali.
Mais também a “recompensa” eu penso, hoje né? Só hoje é que vejo que no final era mais difícil mais era mais verdadeiro.
Sim, por que apesar do tempo, as pessoas que “conquistei” escondida atrás das minha banhas, hoje estão ao meu lado pelo que penso,pelo que posso atribuir como pessoa não como figura.
Mais pra explicar agora tenho que dar a versão numero dois que creio ser a que estou vivendo.
Agora com menos 58kg de proteção, as pessoas parecem me aceitar mais facilmente, não que isso seja ruim, mais é estranho confesso.
Eu ainda sou eu, do mesmo jeito, igualzinha, mesmos sonhos, mesmas manias, mesmos medos,mesmas indecisões,mesmo caráter,tudo tudo tudo igual aqui dentro. Mais então por que será que antes quem nunca percebeu que eu existia agora faz questão de me cumprimentar, de sentar de conversar e de fingir que se importa com o que eu penso sobre a sociedade e sobre as regras por ela imposta?
É difícil? É por que pra mim parece bem difícil, será mesmo que uma pessoa, só tem voz “ativa” e é levada a serio de logo de primeira se ela conseguir se enfiar em uma calça de numero menor? Será que os princípios e valores valem menos que uma blusa tamanho p e um cabelo bem hidratado?
PORRA que merda é essa? Onde é que eu vim parar? De verdade to começando a pensar que quero de novo meus 58kg de proteção contra gente escrota, quero de novo ser olhada e admirada pelo que penso e não pela circunferência da minha cintura,queria mesmo não pensar tanto em tanta coisa mais afinal o que seria da vida se só houvessem dias ensolarados e seres equilibrados?