Sábio travesseiro... Sou aficionada... Simone Caixeta
Sábio travesseiro...
Sou aficionada pelas obras de Rubem Alves - psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro, autor de livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis – cada texto dele, traz alento a minha alma em determinado momento. De todos, hoje um em especial fez-me dulcificar: O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: "Se eu fosse você". A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção. Porque a vida é feita de percalços. E nessas horas o que mais nos falta é alguém que saiba “ouvir”.
Dispostos a te ouvir não faltam, até sobram, mas de todos poucos sabem ouvir. E muitos ouvem no intuído de bisbilhotar, por curiosidade, pelo burburinho. Quem não adora um fuxico? E a cada palavra ouvida, dez são ditas: “não é sim”, “você agiu errado”, “assim não dá certo” “não é desse jeito que faz”, “faça assim”, “escute o que estou te falando” etc. Outros subestimam sua capacidade de resolução e despejam-se em conselhos; “se eu fosse você faria assim”. Esses carecem aprender um ditado antigo pregado nas escolas: “quando um burro fala o outro abaixa a orelha”, á aprenderem a ouvir.
E não sei o que é pior, não saber ouvir - porque quando estão falando te tolhe o direito de falar – ou a tentativa de aconselhar. Mania que todo mundo tem de querer dar palpite na vida dos outros. Voltando aos ditados: “se conselho fosse bom ninguém dava, vendia”. Querem que tomemos atitudes de acordo com aquilo que acham certo, mas nem se dispuseram a nos ouvir, a conhecer nossa aflição, nossa dor. Simplesmente não ouviu como pode ousar a aconselhar?
Se não há ninguém apto a ouvir o meu desabafo, opto pelo silêncio. É no silêncio que me ouço, é nele que busco minhas entranhas, meus medos, minha coragem, minhas tristezas e minhas alegrias. O silêncio torna-se o meu conselheiro, pois “o silêncio é um amigo que nunca trai” (Confúcio). Qual o lugar ideal para nos encontrar com o silêncio? Sábio ditado popular: “travesseiro é o seu o melhor conselheiro”. É recostado nele, onde silenciamos a voz e deixamos no íntimo falar, são os pensamentos. O travesseiro por sua vez ouve em silêncio e quando nos cansamos, é a vez dele de falar de aconselhar. É nesse exato momento que encontramos a solução para o que há poucos instantes não tinha saída. Sendo assim, a sensação de angústia, aflição, desespero dá lugar a serenidade, a paz e a tranquilidade, e aos poucos entorpecemos profundamente. Ao despertarmos tudo parece mais fácil, simples e ameno! Sábio travesseiro!