Pela noite adentro Embriago-me em versos... Renée Venâncio
Pela noite adentro
Embriago-me em versos
Pela noite adentro
Eu deixo o tempo lá fora.
Eu bebo na fonte da poesia, meu vício
Bebendo poesia eu embriago minha alma.
Bebo até perder palavras pelas ruas vazias
Bebo até tropeçar nos degraus da madrugada
Bebo até cair na manhã de um outro dia
Bebo e arroto um gosto doce de alvorada.
Sinto-me zonzo
Cambaleando nas rimas
Vomito estrofes sem rumo e mal mastigadas
Regurgito nacos indigestos e sem melodia
Bebo na fonte onde a poesia é destilada.
Bebo dessa aguardente que faz valer o meu dia
Caído eu vejo o céu inteiro e o espaço
Bebo das chamas intensas que me queimam em vida
Bebo então o sol que incendeia meus passos.
A luz brilha forte quando a noite vai embora
Bruma de fogo que ofusca minha retina
Fumaça que turva meus olhos: eu caio na escada
Estiro-me ali mesmo, caído num chão de alegria.
Cubro-me com as brisas; durmo e sonho
Bebo da poesia que aquece minha alma
E da poesia que bebo, um gole é muito pouco
Deliro como um louco a caminho de casa
Caminho torto
Em meu corpo solto pelas avenidas largas
Que passam aqui por dentro de mim
Bebo da poesia até a última gota
Num gosto que nunca acaba por não ter fim.
Bebo da poesia e deliro com palavras
Não quero a cura desse vício de minha alma
Porque eu bebo e jamais esqueço
Que a beleza de toda poesia
Me inebria e me acalma.