Gritei, empurrei, tirei o salto alto da... Iolanda Valentim

Gritei, empurrei, tirei o salto alto da forma mais grosseira possível e sai correndo. Eu adorava ser rebelde, adorava fazer uma cena, me livrar de qualquer obrigação, estufar o peito e dizer que era livre. Eu era exagerada, impulsiva, imediatista, e principalmente: dramática. Sempre fazia de uma ondinha, um verdadeiro tsunami. A verdade é que eu tinha que sentir o tempo todo. Nem que fosse raiva ou tristeza. Sentir qualquer coisa é melhor do que não sentir nada. Nasci pra ser atriz de novela mexicana.
Eu odiava qualquer coisa que beirasse ao normal. Sempre surtei mesmo. É que o mundo às vezes me incomoda demais e eu sempre preciso gritar pra ele que eu não sou só um grãozinho de areia. Que menina louca, que garota estranha. Eu sei, eu sei. No final eu sempre me arrependi por ser tão exagerada. E eu continuei andando pelas ruas sem rumo, ciente dos passos que ouvia atrás de mim, mas sempre ignorando. E ele, da mesma forma, paciente e em silêncio, só esperando a hora de me cansar e voltar ao normal. Cheguei à avenida e ele finalmente veio me salvar. Parando ao meu lado, sem dizer uma palavra, só me abraçou. E era isso que eu tanto buscava. Todo o escândalo, rebeldia e incomodo que eu sentia cessaram. Eu só precisava ser cuidada, protegida, só precisava de alguém paciente o bastante pra me pôr nos eixos.
Talvez ele nunca tenha entendido porque eu fui, sou e provavelmente, sempre serei desse jeito – e quem entende? – mas ele nunca corre pro lado oposto. Nunca desistiu e quis gritar mais alto que eu. E isso me enche de esperança. Porque tanto faz o mundo não me entender, eu não entender o mundo e eu mesma não me entender também. Tanto faz minha insegurança, vulnerabilidade e instabilidade. Ter o colo dele pra chorar baixinho sempre vai espantar todos os meus medos.
Tem coisa melhor no mundo do que ter alguém pra te acolher?