LUZES NA NOITE Um ônibus. Uma... Gael Thomaz

LUZES NA NOITE

Um ônibus. Uma ambulância. Carros. Motos. Buzinas. Sirenes. Motores. Corridas. Passeios. A sinfonia urbana nunca para, ela contorna trajetos com luzes que se estendem por meros segundos, quase imperceptíveis, mas quase palpáveis.
Luzes. Luzes nos postes, nos faróis, nos tocos de cigarros mal apagados, nas vitrines, no celular solitário que pisca na volta pra casa. Luzes nas janelas. Em cada prédio, em cada andar, em cada apartamento, em cada televisão que faz companhia para seus insones. Em cada tela de computador.
É tudo que eu vejo quando olho pra fora, depois da meia noite. Vejo janelas iluminadas, algumas próximas, algumas distantes. Imagino vidas, situações. Resolvo problemas que não são meus. Tomo dores que não são minhas. Vejo de tudo e sequer sei se sou visto por alguém. Uma senhora recolhendo as roupas esquecidas na varanda. Um estudante com fones nos ouvidos, talvez estudando, talvez namorando à distância. Pessoas aflitas em quartos de hospitais, fumando um atrás do outro, esperando notícias boas ou ruins. Funcionários de um escritório fazendo hora extra. Uma mulher chorando, preparando um chá, talvez um café, não sei ao certo.
E lá, bem distante, entre morcegos e mosquitos, entre ritmos intercalados de jazz e soul, numa claridade muda, tímida, quase invisível, um escritor curioso, cuidando da vida alheia, cansado do tédio da sua própria vida.