É tão difícil falar e dizer coisas... Letícia Piva
É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. Madrugada de sexta-feira sai de casa sem nada no estomago, um nó na garganta e uma vontade imensa de gritar, com a mente anestesiada e um sentimento estranho. Após me refugiar em uma danceteria em Americana, á caminho de casa em meio o barulho do transito da manhã o que me incomodava era apenas o meu silencio; nada tinha cor, eu olhava as pessoas mas não as enxergavam. “Porque pior do que a voz que cala, é um silêncio que fala”. E fala alto. Silêncio que fala sobre esquecimento. Meu telefone não tocou, estava mudo para a única ligação esperada. Não havia recados na secretária eletrônica e mesmo assim, entendi a mensagem. Acabou. Ate a criatividade para inventar um novo recomeço acabou, porque chega uma hora que você se da conta de que não é uma questão de força, nem de vontade, é de aceitação mesmo. Aceitar que você também vai perder, vai ter de abrir mão de certos planos, mesmo que temporariamente. Ate amadurecer, e o mais difícil é que não se sabe quanto tempo leva para que isso aconteça, o seu tempo você ainda consegue fazer uma idéia, mais e o tempo do outro que é diferente do seu e precisa ser respeitado? E daí você tem que escolher se pega o ônibus errado de novo ou espera pelo próximo. Só que essa espera é angustiante. Mais o que fazer? O que dizer? Que amo, que o esperarei um dia na rodoviária, num aeroporto?Que acredito em tudo o que vivemos, que só ele consegue mexer dentro-dentro de mim? É tão pouco. Estava fora de órbita, fui despertar do meu silencio quando por alguma razão alguém gritou, “vai bater”, ouvi o cantar dos pneus e senti que deslizava pela pista. Ufa! Paramos em um posto de beira de estrada para afastar o susto. Senti em mim um cheiro de tudo aquilo que eu sempre odiei, e ainda odeio, e agora com uma atitude fraca e mesquinha eu tenho usado como anestésico, na tentativa de preencher uma lacuna criada por mim, por minhas escolhas, minhas palavras ásperas. Neste posto havia uma conveniência, estava fechada, mais tinha os vidros da entrada espelhados, vi o reflexo de uma moça, eu não a reconheci. Então me perguntei, porque ela estava tão triste?
Não te preocupa, eu vou ficar bem. É fácil prever. O que acontece é sempre natural, se a gente tiver que se encontrar, nesta ou em outra vida, a gente se encontra. Espero-te. E curto-te todos os dias. E gosto-te. Muito. Por isso, desisto.